Depois de ver a câmera deste post, fiquei com uma pergunta na cabeça: Por que ainda fotografar com grande formato? Não que eu não tenha a “minha resposta”. A pergunta é mais uma reflexão do que uma busca de respostas.
Para tentar nos aclarar, fiz a pergunta para alguns fotógrafos que ainda usam as chapas.
Guilherme Maranhão busca aquilo que sempre marcou suas obras: controlar o equipamento. Além do “tempo”ser diferente.
Pedro David usa por filosofia de trabalho. Isso já vem do projeto Homem Pedra que foi feito em médio-formato. Pedro já ganhou o Pierre Verger com o ensaio O Jardim feito com sua 4×5. Ele processa todos os filmes em casa. Detalhes, aqui.
Claudio Edinger, não preciso falar muito. Tem vários ensaios e livros feitos com 4×5 nos últimos anos. Gosto muito da análise que Edinger fez sobre a comparação do clicar entre a grande-formato e um iPhone.
Foto: Pedro David – Ensaio O Jardim
Por Pedro David
Teria este formato perdido sua extrema resolução?
Ou sua possibilidade de correção de perspectiva que nos permite fotografar um prédio, estando em sua base, sem que o mesmo tenha suas linhas arquitetônicas convergidas?
Será que as objetivas, que sempre foram as mais perfeitas de todas as linhas de produção de cada marca, teriam perdido sua incrível qualidade ótica, e passado a arredondar toda e qualquer linha reta registrada por elas, como todos aqueles cacos de vidro embalados em plástico bolha, usados nas cameras 35 mm?
Alguém diria que a película Fujichrome Velvia 50, venerada pelos fotógrafos coloristas de ontem à noite, não satura mais?
Ou que seus minúsculos grãos cresceram além do limite?
Venho com essas falsas questões para tentar dizer que não acredito que novos inventos e possibilidades que sejam criadas não tem a função de destruir os anteriores.
Sabemos que a pergunta está no ar por causa da revolução digital que estamos tendo a oportunidade de presenciar. Ela nos traz ferramentas maravilhosas, como esta, de podermos nos comunicar através de um blog independente, por termos como ver nossas fotografias no momento em que são produzidas, se isto for necessário, por podermos fotografar com um telefone e enviar uma foto imediatamente para quantas pessoas quisermos.
Mas ela não mata as outras ferramentas, também poderosas, que já tínhamos antes dela.
As perguntas acima mencionam alguns motivos técnicos pelos quais fotografar em formato grande. Apenas eles já podem ser suficientes, mas não são os únicos motivos importantes para o meu processo.
Comecei a fotografar não há tanto tempo assim, mas não haviam, naquela época, final dos anos 1990, câmeras digitais acessíveis. Aprendi então a expor um cromo, revelar filme, copiar no laboratório. Gostei do processo todo.
Tenho prazer em manipular uma chapa no escuro, misturar os químicos, esperar todo o seu processo, e retirá-la quente e molhada do tanque, para ver, contra a luz, o que saiu. Como também tenho prazer em colocar a câmera no tripé, escolher o melhor ângulo, olhar a imagem de cabeça para baixo e espelhada através daquele vidro quadriculado, com os dois olhos ao mesmo tempo, com a cabeça coberta por um pano preto.
Acredito que medir exaustivamente a situação e sua luz, para não gerar uma chapa feia, que não será tão facilmente apagada, me ajuda a gerar imagens mais potentes.
Aí alguém poderia dizer que com uma câmera digital também se pode adotar este procedimento, sim, pode, mas eu acabo atirando demais…
Eu gosto deste processo.
Foto: Claudio Edinger – Itaetê, 2006
Por Claudio Edinger
Eu é que tenho me perguntado isso: por que?
Mas a grande formato é uma delícia de trabalhar e não tem nada igual. Obriga a gente a desenvolver um poder de síntese e objetividade como nenhuma outra. Só batemos uma chapa ou duas. A foto sair direito no iPhone só é possível por isso, por este poder de síntese que a gente aprende com a bichona…
O problema é que tá acabando mesmo o filme, aí não vai ter jeito… Se bem que acabei de fazer fotos encomendadas para um livro e fiz todas só com o iPhone.
Foto: Fernando Ricci – Guilherme Maranhão em ação
Por Guilherme Maranhão
A minha grande razão para continuar usando o grande formato é a simplicidade das câmaras, o modo como elas são fáceis de modificar, consertar, adaptar, reconstruir, etc.
As minhas são de madeira e de metal e com um serrote e uma furadeira todo tipo de alteração é possível nelas. Parto dessas modificações para dar características únicas para essas câmaras e posteriormente essas fotografias. E além disso, é um trabalho em marcha lenta, mesmo quando se tem muita pressa.
Gostei muito do que o Guilherme Maranhão disse sobre “Controlar o equipamento” e do “tempo”ser diferente, me sinto mais desafiado fotografando em Grande formato, atento desenvolvendo esse tal poder de sintese e os detalhes são dignos de um atirador de elite.
Admiro muito o trabalho dos 3 fotografos quem sabe um dia eu chegue lá um grande abraço a todos.
Abaixo um link de uma CHAPA MINHA RECENTE com minha 4×5
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=273837335988779&set=a.150760371629810.25406.118251558214025&type=1&theater
Fotografar com grande formato é um exercício de paciência com um indescritível prazer pelo domínio completo do processo. Considero-me um felizardo por projetar minha própria câmera, fotografar, revelar e ampliar minhas fotografias. Gostaria mesmo que todos pudessem experimentar isso, pois certamente eu teria mais aliados na busca de filmes e quem sabe, assim, eles voltassem às prateleiras. Minha câmera pode ser vista aqui: http://home.online.no/~gjon/alves.htm
Alexandre, ótimo post!
Oi Lila,
Muito legal a relação que você fez. É isso mesmo. Será um prazer ver este material realizado.
Abraços.
Belém.
Ahh, delícia de post. Meu noivo tem uma dessas em casa: comprou duas pra montar uma. Não pude deixar de associar o processo de fotografar com uma grande formato às técnicas de desenho que aprendi na faculdade de arquitetura. Uma delas dizia que quando vemos uma imagem de cabeça pra baixo, um desenho a ser copiado, por exemplo, acessamos uma parte do nosso cérebro que não vê o todo logo de cara, mas as partes: é como se deixássemos de ver o rosto e víssemos as rugas, as pregas do tecido, o limite entre o rosto e o ar que o circunda, entre o olho e a pele da pálpebra. Estamos nos dedicando à construção de uma série com ela – quando tiver algo consistente pronto, gostaria de compartilhar com você, pra ver sua opinião.
Sou aluna da USP e estive na sua apresentação durante a aula do Kossoy 😉
Lila