Tiago Santana

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Com este post, o Olhavê comemora mais uma conquista para a fotografia brasileira: acaba de ser lançado o livro Photo Poche do fotógrafo cearense Tiago Santana. Tiago é o segundo brasileiro figurando na tradicional coleção. Junta-se a Sebastião Salgado.

A história começa em 2007 e culmina com a publicação agora em 2011. Por enquanto, o livro está sendo vendido pela França e torcemos que chegue logo por aqui.

Ainda sobre a Photo Poche, não tenho muitos detalhes, mas… A editora Cosac Naify editará a coleção em português ainda este ano. Creio que, provavelmente, eles devem começar logo com os clássicos. A informação foi dada por Augusto Massi, editor  da Cosac Naify em palestra no EBEFI.

O Photo Poche de Tiago, aqui.

Abaixo, um papo rápido com Tiago sobre esta conquista.

Foto: Gustavo Pellizzon – Tiago na sua casa em Fortaleza

OLHAVÊ – Você é um autor que tem uma relação antiga com os livros. Seus projetos, toda a sua obra, a Editora Tempo d’Imagem, etc. Qual a importância na sua carreira em participar da Coleção Photo Poche?

TIAGO SANTANA – Minha formação como fotógrafo teve os livros como fator essencial. Numa época em que muitos poucos fotógrafos publicavam no Brasil e a maioria das publicações disponíveis eram estrangeiras. Lembro-me que sempre quando ia a São Paulo passava horas na livraria Freebook, que fica na Consolação, vendo aqueles livros maravilhosos. Entre eles, aquela simpática coleção francesa de bolso preta.

A coleção Photo Poche foi fundamental na minha formação. Em 1990, na minha primeira viagem a Europa, visitei o Centre National de la Photographie na França, onde o Robert Delpire foi o diretor e onde nasceu a Coleção Photo Poche. Fiquei encantado com o projeto, as exposições, os livros, etc. Sempre que viajo passo boa parte do tempo visitando as livrarias de fotografia, e na medida do possível compro o que posso.

Os livros fazem parte da minha vida e estão sempre presentes na minha casa, onde parte da minha coleção, ocupa o local de destaque na minha sala.

Todo o meu aprendizado como fotógrafo, foi desenvolvendo um projeto de um livro. Benditos foi o meu amadurecimento como profissional, como pessoa. Publicar um livro era o objetivo principal daquele projeto, que hoje já completou dez anos de sua publicação. Esse meu envolvimento com os livros e a percepção de que no Brasil pouco se publicava em termos de fotografia autoral, é que nos levou a criamos a Editora Tempo d’Imagem. Fundada inicialmente por três fotógrafos: Celso Oliveira, Tibico Brasil e eu.

A Editora seria a forma de viabilizar projetos que normalmente não seriam de interesse das editoras comerciais estabelecidas. Esse projeto continua até hoje e faz parte de um processo de construção coletiva.

Estar hoje fazendo parte da coleção Photo Poche, que é considerada uma das mais importante coleção de livros de fotografia do mundo, é um sonho. Jamais imaginei estar nas páginas daquela coleção que tanto me ensinou a ver.  E tudo isso são os frutos de um trabalho compartilhado. De acreditarmos na produção autoral brasileira. De acreditarmos na importância dos livros.

OLHAVÊ – Fale sobre os caminhos que o levaram até Robert Delpire.

TIAGO SANTANA – Foram os meus livros (Benditos e Chão de Graciliano) publicados no Brasil que chegaram as mãos do Robert Delpire, e que fizeram com que ele se interessasse pelo meu trabalho. Isso mostra a importância das publicações de livros no Brasil, fundamentais para o País, para a Memória, para a Fotografia Brasileira e para o Autor. Ao ver os livros, levados por Jehsong Baak, um fotógrafo amigo que mora em Paris, Delpire disse que queria me conhecer. Em 2007, estive em Paris e fui a sua editora (Editions Delpire) e tivemos uma ótima conversa. Ele é uma pessoa encantadora, um Grand Messieur, como se diz na França. Uma pessoa simples, delicada, atenciosa, enfim um gentleman da fotografia, hoje com 83 anos. Durante o encontro ele me perguntou se me interessaria publicar na Coleção Photo Poche. Imagine a minha cara? Fiquei sem palavras… A partir daí começou o processo até a publicação do livro.

OLHAVÊ – Como foi o processo de edição para este livro?

TIAGO SANTANA – Foi um longo processo desde aquele meu primeiro encontro com Robert Delpire, até a publicação do livro em maio de 2011. Interrompido durante um certo período, pois o Delpire estava bastante ocupado trabalhando em uma grande retrospectiva em homenagem ao seu trabalho que aconteceu em Arles e na Maison Européenne de La Photographie em 2009/2010.

A idéia do Delpire seria fazer um livro Photo Poche Sociéte que mostrasse o meu trabalho do universo “Sertão”. Portanto, o livro tem fotos do Benditos, Chão de Graciliano e poucas fotos novas. Achei que seria importante consolidar o meu trabalho já publicado no Brasil, mas pouco conhecido no exterior. Como a coleção tem um alcance internacional, é uma forma de colocar o trabalho no mundo. Fiz uma seleção com aproximadamente 120 imagens e o Delpire editou as 71 que estão no livro. Fiz algumas sugestões de mudanças, poucas, e ele acatou. Toda a concepção do livro foi definida por ele, desenho e sequências das fotos, etc. O texto foi também sugestão dele, que convidou o escritor Eduardo Manet, que é Cubano e mora a muitos anos na França. Também uma pessoa formidável e que se demonstrou bastante envolvido e tocado com o tema, com as imagens.

O Delpire foi muito aberto em todo processo de preparação do livro e compartilhou todas as questões comigo com muita generosidade.

O título do meu livro ficou então Sertão e faz parte da mesma série temática (Société) como a que foi publicada em 1999 com o tema Serra Pelada de Sebastião Salgado, até hoje o único brasileiro a publicar na coleção Photo Poche, e que tem dois volumes com seu trabalho: Serra Pelada (1999) e Sebastião Salgado (1993). Hoje o Photo Poche é publicado pela Actes Sud, importante editora francesa com sede em Arles.

Poucas pessoas sabiam aqui no Brasil que esse meu livro estava em andamento. Não quis falar antes de ter a certeza de que o livro sairia. Sabe aquela coisa que é tão maravilhosa que a gente acaba só acreditando quando vê? Somente quando assinei o contrato e o livro foi encaminhado para a impressão é que resolvi falar. Essa é a primeira vez que o livro é divulgado no Brasil.

O Olhavê é o primeiro a divulgar esse lançamento. O livro já está pronto e a venda na França. Estou ansioso para ver a publicação. Ainda não sabemos como será o lançamento no Brasil. Convidei o Robert Delpire para vir ao Brasil, mas ele tem viajado muito pouco por questões de saúde. Mas vou refazer o convite e quem sabe com uma certa insistência ele não aceita. Vamos ver.

Seria muito bom recebê-lo aqui no Brasil para lançar o livro. Até porque estamos em um momento no Brasil onde se discute na REDE essa questão das coleções de livros de Fotografia Brasileira, acho que ele poderia dar uma grande contribuição nessa discussão. Não é para menos ver uma coleção que desde 1982, a quase 30 anos sob a direção do Rebert Delpire, vem divulgando a fotografia no mundo de forma tão competente.

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