Rogério Reis

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[ QUEM ] Rogério Reis.

[ ONDE ] Nascido no Rio de Janeiro em 1954.

[ PORQUE ] Fotógrafo que dispensa apresentações. Rogério Reis faz parte de um seleto grupo que já entrou para a “História da Fotografia Brasileira”. Trabalhos como o “Na lona” e a documentação que ele fez dos surfistas de trem no Rio de Janeiro (final dos anos 80 pra 90), são refências para qualquer fotógrafo. Prefiro fazer um relato da minha experiência de “um dia” ao lado de Rogério. Algumas experiências na vida são mais proveitosas do que qualquer outra coisa – curso, emprego, universidade, etc. Não lembro o ano, foi há mais de 8 anos, tenho certeza. A agência de fotografia Tyba precisava de um assistente pelo Recife para acompanhar Rogério que ia realizar uma produção em uma indústria para um relatório anual. Fui lá! Monta e desmonta luz, carrega equipamento pra lá e pra cá, conversa vai e conversa vem. Retratos. Basicamente, retratos para um catálogo de uma indústria para a agência Blackstar de Nova Yorque. Bem, ainda hoje “vejo” no meu dia-a-dia coisas que assimilei naquela produção.

Autorretrato

Abaixo, uma pequena parte do currículo de Rogério Reis, algumas fotografias e a entrevista.

Rogério Reis descobriu a fotografia nas oficinas de arte do MAM-Museu de Arte Moderna, nos anos 70. Trabalhou no Jornal do Brasil (1977), no O Globo (1980), na revista Veja (1983), e participou do Grupo F4 de fotógrafos independentes dos anos 80. Durante 3 anos seguidos (85 a 87), fotografou Ayrton Senna para o Banco Nacional, a convite da agência de publicidade MPM. Foi durante 5 anos editor de fotografia do Jornal do Brasil (91 a 96). Em 1999 recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia da Funarte. Em 2002 sua fotografia de Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana (1982) foi reproduzida em bronze pelo escultor Leo Santana, em homenagem ao centenário do poeta. Inspirou e emprestou seu nome ao personagem do fotógrafo no filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, baseado no livro do escritor Paulo Lins. Em 2007 passa a integrar o grupo de fotógrafos do projeto da UNESCO, Our Place – the Photographic Celebration of the World’s Heritage. É um dos fundadores da Tyba (1991) onde trabalha como editor de projetos especiais; autor do livro Na Lona – Editora Aeroplano (2001) e co-autor dos livros, Revisitando a Amazônia de Carlos Chagas – Editora Fiocruz (1996) e Retratos de Outono – Editora Sextante (1999).

Mais informações e fotografias: http://www.rogerioreis.com.br

O homem árvore | Na lona | 1994

A santa | Na lona | 1999

Back Light/Pneus | Exposição “Microondas” | MEP – Maison Européenne de la Photographie | Paris, 2007

Red Pillows/Travesseiros vermelhos | Exposição no Oi Futuro | Rio de Janeiro, 2007

Você vem do fotojornalismo, fotografia ducumental, fotoarquivo, retratos, etc. Gosta de denominações, tipo: fotodocumentarista, fotógrafo contemporâneo, etc?

Estou habituado a me apresentar como fotógrafo. Às vezes, fico cansado de fotos com molduras na parede e parto para experiências menos convencionais. De qualquer forma, vim do jornalismo e quase sempre conservo o aspecto documental da fotografia.

A Tyba é um respeitável fotoarquivo. Você considera a fotografia para banco de imagem ainda como uma “poupança” para o fotógrafo?

Mais do que poupança, o arquivo é o lugar próprio para se preservar a memória, um trabalho. Para o mercado uma foto não indexada não tem valor, a não ser que seja uma imagem muito conhecida, tipo ícone de uma época.

Fotoarquivos brasileiros como a Tyba ainda “seguram a onda” frente estes bancos estrangeiros e os royalty free?

O royalty free é uma realidade que facilita a vida dos pequenos consumidores. As grandes marcas alugam suas fotos com um período de exclusividade, com tempo determinado. Por exemplo: a Coca Cola não vai querer correr o risco de ter uma foto utilizada por ela e ao mesmo tempo por outra marca. Essa simultaneidade acontece toda hora no segmento royalt free. Acho que é função das agências de fotografia e bancos de imagens brasileiros detalhar nosso país com imagens de qualidade e de forma mais abrangente possível, assim seremos competitivos. Uma coisa é certa o custo de fazer stock ficou mais em conta no processo digital.

O projeto de retratos na lona no carnaval do Rio vem desde o final da década de oitenta, não é? Durou quanto tempo?

O “na lona” parou na publicação do livro pela editora Aeroplano em 2001. Foi feito durante 15 carnavais e com ele aprendi a interagir com estranhos de forma rápida, com relativa intimidade, acabo de trabalhar com violência urbana (microondas), estou fechando um livro patrocinado pela LIGTH sobre a antiga rua Larga no centro antigo do Rio e tenho minha rotina de editor da Tyba.

Como fotógrafo e editor do Jornal do Brasil, você deve ter convivido com grandes fotógrafos. Como foi conviver no dia-a-dia com Evandro Teixeira. Que vem transpondo gerações do fotojornalismo brasileiro?

Evandro é um fenômeno!! Me orgulho de ter sido estagiário e mais tarde editor desse grande fotógrafo. Nos vemos com freqüência e ele sempre me diz que não pode “parar de pedalar”: isso significa que ele vai continuar fotografando durante muito tempo. Seu último livro “Passeata dos 100 mil/68 destinos” é um livro indispensável pois a partir de uma foto resgata nosso passado de forma magistral.

Recentemente, você teve fotografias adquiridas por acervos, inclusive na Europa. São fotos documentais, retratos. Hoje se fala tanto em fotografia contemporânea, fotografia como suporte, foto-instalação… Como você observa a fotografia neste mercado de arte: acervo, galeria, venda?

A imagem digital democratizou a linguagem fotográfica. Hoje todo mundo se expressa com fotografia. No ambiente da arte contemporânea o importante é comunicar independente da crítica e das regras de mercado. Coragem e liberdade são os novos diferenciais. É natural que tenha muita coisa ruim porque tem muita gente fazendo coisas. As pessoas estão buscando o novo através de canais de exibição menos disputados do que a mídia impressa e das galerias de arte e museus. O fotojornalismo terá sempre o seu lugar de prestígio, pois trabalha com informação de caráter público e discute o tempo todo a condição humana. O fotojornalista pertence à escola moderna: composições geométricas, perspectivas, equilíbrio, etc. Já o contemporâneo, está mais preocupado com a idéia e o conceito da imagem, uma proposta menos explícita. Em novembro do ano passado, tive a oportunidade de vender MICROONDAS (instalação de fotografias aplicadas à 12 pneus) para o acervo da MEP – Maison Européenne de la Photographie. O mercado de fotografia de arte por aqui ainda é acanhado e fechado comparado a outras praças na Europa e Estados Unidos. De qualquer forma, a estrutura está sendo montada: já temos marchands, curadores, coleções, acervos, galerias e museus. Só nos falta os compradores que ainda são poucos.

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