[ QUEM ] Clicio Barroso.
[ ONDE ] São Paulo.
[ PORQUE ] Um dos mais renomados fotógrafos de moda e publicidade do Brasil, Clicio também é referência quando se pensa em “passar conhecimento”. Autor de livros e bem sucedido professor, Clicio roda o país ministrando cursos que esclarecem os mistérios de programas como Photoshop e Lightroom.
*Currículo fornecido pelo entrevistado.
Natural de São Paulo, Clicio foi assistente de câmera e de direção de cinema, enquanto cursava a Camera Photoagenthur/Nikon School of Photography. Trabalhou na Editora Abril como assistente de fotógrafo por dois anos. Como profissional, morou e trabalhou em New York, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Madrid, Lisboa e Atenas, fotografando editoriais de moda e publicidade.
Com grande experiência em fotografia digital e gerenciamento de cores, Clicio tem ministrado cursos, palestras e workshops em escolas, faculdades e cursos de pós graduação, em instituições como o SENAC, UEL, UCS, entre outras. Além de participar de eventos como o Photoshop Conference. Clicio também é diretor da Associação de Fotógrafos Fototech, é colunista da revista Photoshop Pro, além de colaborador eventual das revistas Fotografe, Fhox, Desktop e do Fotosite.
Atualmente, trabalha para clientes diretos nacionais e norte-americanos, e para as agências de publicidade, tanto fotografando quanto realizando tratamento de imagens especializado. Participa de exposições coletivas e individuais, e por três vezes recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo, categoria Fotografia. Seu primeiro livro, Adobe Photoshop Ligthroom, encontra-se na segunda edição. Recentemente, Clicio tornou-se ACE-Adobe Certified Expert, tanto em Photoshop CS3 quanto em Lightroom.
Site: http://www.clicio.com.br/portuguese/home.html
Flickr: http://www.flickr.com/photos/clicio
Entrevista com Clicio no Jornal do Commercio sobre o novo Photoshop CS4, aqui.
Você entrou na fotografia pelo cinema. Foi isso? Conte como foi o começo.
Foi sim, meu pai sempre foi diretor de criação publicitária e me indicou para ser assistente em uma excelente produtora de cinema comercial, onde entrei como segundo assistente de câmera. Lá aprendi a iluminar e fotografar com dois grandes mestres europeus, diretores de fotografia, um alemão e outro húngaro. Seus nomes eram George Fuster e Rudolf Icszey. Saí de lá depois de dois anos como assistente de direção, e sabendo fotografia e laboratório PB.
Como foi a sua experiência no exterior?
Simplesmente fundamental. Fui para Nova Iorque em 1974, estagiar; fiquei um ano. Depois fui para a Europa em 1982, e passei quase 10 anos vivendo e trabalhando em Madrid, Athenas, Roma e Lisboa. Uma experiência imperdível, fotografando pelo mundo inteiro, Egito, Áustria, Paris, Londres. Recomendado a todos que possam!
Quais os requisitos básicos para um bom fotógrafo de moda e publicidade?
Qualidade fotográfica. Cultura. Muito museu, muito livro de arte, muita galeria, ser antenado com a contemporaneidade. Saber trabalhar sob pressão.
O que o mercado atual pede desse profissional?
Infelizmente hoje ninguém sai da faculdade pronto para o mercado profissional. Muito se aprende no dia a dia, e é aí que os relacionamentos entre cliente e fornecedores se formam, e ser assistente de um bom e conhecido fotógrafo é fundamental, ainda. Os requisitos são, francamente, divididos em duas vertentes: o “generalista”, que faz fotografia de varejo, baixo custo e alta produção, e os “especialistas”, que fotografam muito bem apenas uma ou duas categorias (carros, aviões, culinária) e que cobram o que querem.
Qual o equipamento para começar na área de publicidade e moda?
Pelo menos uma boa câmera de pequeno formato e uma de médio formato (back digital). Mínimo de 5 tochas de flash digital e todos os acessórios, como hazes, colméias, Ring Flash, e se possível Dedolight. Uma fibra ótica para light painting é fundamental para se fotografar culinária, do tipo Hosemaster, da Calumet.
Sem ser a área de publicidade e moda, o que na fotografia lhe atrai? Qual outro gênero da fotografia você faria? Suas influências…
Adoro retratos. Sou fascinado pelo ser humano, e sou influenciado por fotógrafos controversos como Nan Goldin , Nobuyoshi Araki , Cindy Sherman e a suicida Diane Arbus. Gosto também dos clássicos August Sander e Yosuf Karsh. Tenho visto coisas interessantes no Flickr, como o trabalho da “Vorfas” (Salomé G).
Você já passou por três décadas de fotografia. Nesse tempo, qual foi a maior evolução tecnológica que você presenciou?
A mudança do mecânico para o digital. Não há a menor dúvida que o filme comparado com a tecnologia atual é jurássico. Não sinto a menor saudade.
A médio/longo prazo, quais são as novidades que chegarão para a fotografia digital que poderá revolucionar o mercado?
As “câmeras” da RED, configuráveis pelo usuário. Idéia sensacional, fundindo fotografia e cinema.
Gostaria que você falasse um pouco sobre a sua relação com a beleza vs. Photoshop? Os seus retratos de mulheres trazem para a realidade algo fora do contexto real.
Engano seu. Em primeiro lugar, não vamos discutir aqui o que é realidade. É uma questão filosófica, os reflexos da caverna de Platão, a minha interpretação, e a sua interpretação. Por estatística, 9 entre 10 mulheres escolhem os seus próprios retratos photoshopados. Por outro lado, o que é “um batonzinho”? Um lifting? Uma calça ou um soutien com enchimento? O que é o seu retrato, Alexandre, (certamente “embelezado” pelo ângulo, escolha de objetiva, cores…) no Flickr?
Tenho publicado dezenas e imagens no Flickr sem tratamento de pele algum. Minha relação com a beleza é dupla; faço o trabalho comercial, para as indústrias de cosméticos e editorias de revistas, que precisam das peles impecáveis, e eu tenho a sorte de as saber fazer; por outro lado, quando posso evito o Photoshop ao máximo. Para falar a verdade, hoje faço pelo menos 60% do meu trabalho no Lightroom, sem ir ao Photoshop.
Discordo absolutamente do jargão “contexto real”. Minha mulher, Vera, foi top model internacional por anos, e era linda. Quando nasceu a minha filha Carol, ela (a Vera) parecia que tinha sido atropelada, após o parto. O que é o “contexto real”? A Vera linda ou a Vera atropelada? Os dois, ou nenhum dos dois, depende da filosofia.
Uma avaliação mais geral do cenário de equipamentos que não deixa de lançar novidades e mais megapixels: O que nos precisamos? Onde vamos chegar?
Não precisamos de muito para produzir imagens boas. Com uma Xereta o Helmut Newton fez uma edição inteira da revista Photo. Vamos chegar onde a indústria do consumo e da obsolescência programada nos levar. Eu definitivamente *não preciso* de um back digital de 56 Megapixels para nada. Tenho um back de 22 da Phase One que é maravilhoso (e ultrapassado), mas não dou, nem empresto nem vendo.
A atual impressão a jato de tinta com papéis de algodão substitui a prata, a cópia tradicional?
Opa! EPA! Faz tempo, não? Vi uma exposição do Ansel Adams na galeria do Bellagio, em Las Vegas, e as cópias (digitais) foram as melhores que eu já vi do trabalho dele, e olha que eu já tinha visto pelo menos 4 outras exposições dele, do MoMa ao Metropolitan. Impressão digital Fine Arts com papel de algodão e 12 tintas + verniz dá surra em qualquer papel de fibra (fotográfico, base de prata).
Recentemente, Heinz Kluetmeier,um dos fotógrafos mais importantes da revista Sports Illustraded (que trabalha com um assistente) creditou na revista com o nome dos dois: fotógrafo e assistente. Na publicidade, que o trabalho é bem coletivo, como você vê isso do crédito?
Nunca fui muito fã de crédito individual para publicidade, já que como você bem disse, é sempre um trabalho coletivo. No mínimo o diretor de arte deveria ser creditado pela criação (e muitas vezes concepção, tratamento e acabamento) das imagens fotográficas.
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