Adriana Zehbrauskas

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QUEM | Adriana Zehbrauskas.

ONDE | Cidade do México.

PORQUE | A equipe de fotojornalistas da Folha de S. Paulo, no começo dos anos 90, era só de fera. Só para citar alguns: Jorge Araújo, Gaudério, Soubhia, Pisco del Gaiso, Rogério Assis, Marlene Bérgamo, Adi Leite, etc. E tinha Adriana Zehbrauskas. Há muito tempo, Adriana tava pelo Recife e tive a oportunidade de conhecê-la. Não deu para conversar muito, trocamos algumas palavras. Mas ficou a imagem de um sorriso simpático e de gente muito boa. Agora, Adriana vive no México e anda fazendo reportagens para vários veículos, entre eles o The New York Times e é representada pela Polaris Images.

Foto: Dario Lopez-Mills

Currículo fornecido pela fotógrafa:

Nasceu em São Paulo e é graduada em Jornalismo. Continuou os estudos em Linguística na Universidade de Sorbonne Nouvelle, Paris. Trabalhou na Folha de S. Paulo por 11 anos e foi asssistente de James Nachtwey em São Paulo e Nova York.

Estudou com Mary Ellen Mark no México e com Susan Meiselas na Colômbia.

Contribui regularmente com o jornal The New York Times e tem reportagens publicadas em veículos como  Newsweek, Time, Glamour, The Guardian, Paris Match, Le Figaro Magazine, Elle U.S.A, Architectural Record, Time for Kids, The International Herald Tribune e La Nación.

Desenvolve projeto pessoal sobre o fenômeno da Fé no Brasil e no México.

Site de Adriana onde tem muitas reportagens e páginas de publicações, aqui.

Algumas reportagens de Adriana para o NYT, aqui.


Fotos da reportagem Zapatistas | 2005-2006

OLHA, VÊ Você foi fotojornalista da Folha de S. Paulo por mais de dez anos. Lembro que era uma época de “feras”, muita gente boa. Nesse tempo todo de jornal, qual foi a sua maior “roubada”? E, ainda hoje, qual a pauta que é “prazer”?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS A maior roubada? Ihh, foram tantas…. algumas pela própria natureza da pauta, outras por inexperiência e outras pelas duas coisas combinadas…. Me lembro especialmente de uma cobertura presidencial, FHC em Fortaleza. Um desastre. Ele atrasou, meu motorista sumiu, rolou um protesto…. primeira página querendo, fechamento prá ontem… Fazia tanto calor e minhas mãos suavam dentro do saco preto tentando colocar o filme na espiral…. acho que só aí perdi uns 15 minutos…. a tensão e a cobrança aumentando… e a foto, que não era lá muito boa, chegou atrasada e não cabia no espaço… Ainda bem que vida útil de jornal é curta e no outra dia aquela página já estava embrulhando peixe e ninguém mais lembrava…. e hoje agradeço aos céus pela invenção da foto digital!

Hoje em dia minha rotina é diferente. Como free-lancer não preciso mais fazer aquelas coisas chatas da vida diária de uma redação de jornal e posso ser uma pouco mais seletiva em relação ao meu trabalho. Tenho sorte de poder fazer histórias que me interessam e acho que, no final, é sempre um prazer. A pressão continua existindo, mas, mas que nada, é uma auto-cobrança, que sempre vai existir.

OLHA, VÊ Você saiu do Brasil e foi morar no México e, atualmente, tem feito reportagens para grandes veículos como o The New York Times. Ser um “olhar estrangeiro” ajuda?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS Não acho que me contratam por ter um olhar estrangeiro, mas acredito que o fato de ser estrangeira faz com que tenhamos um olhar fresco e menos viciado, mais livre, mais curioso e isso acaba por revelar-se naturalmente no trabalho.

Fotos do projeto feitas em Espinazo, México | 2009

OLHA, VÊ Uma de suas reportagens para o The New York Times foi muito bem comentada em vários sites e blogs. O título da matéria era “No Shoes, No Shirt, No Worries”. E mostrava uma praia/hotel de nudez que você retratou (a nudez explícita) com muita inteligência e humor. Conte como foi realizá-la.

ADRIANA ZEHBRAUSKAS Bom, sendo uma matéria de turismo para o NYT, era óbvio que eu não poderia ser explícita, as fotos teriam que ser publicáveis e ainda assim que mostrassem claramente que se tratava de um hotel de nudismo. A dificuldade começou em conseguir a autorização. Na maior parte das vezes, o editor me liga, passa a matéria e os telefones e quem faz o contato sou eu. Por razões óbvias, não é permitido fotografar no hotel, que fica na Riviera Maia, perto de Cancún, e que recebe, na sua maioria clientes norte-americanos, ricos o suficiente para pagarem diárias de Us$ 500 por pessoa (quase sempre são casais).

Obviamente, dizer que é para o NYT já é meio caminho andado, mas foi uma exceção e impuseram muitas restrições, como, por exemplo, andar sempre acompanhada por um funcionário do hotel e nunca fotografar sem pedir autorização para os hóspedes primeiro, o que tira muito da espontaneidade e limita enormemente o trabalho. Os hóspedes foram avisados um dia antes sobre a presença do jornal no hotel.

Logo depois que cheguei, alguns hóspedes se juntaram para jogar vôlei na piscina e então comentei com o gerente que me acompanhava (que aliás, para minha sorte, era brasileiro!) que gostaria de fotografar.

Ele perguntou se alguém tinha alguma objeção e como todos concordaram, comecei a fotografar. Como era um jogo de vôlei, queria que a bola estivesse em cena…. e que fazer com o resto que não deveria estar em cena??

Bom, o jeito era tentar esperar momentos em que as mulheres estavam esperando a jogada dentro da água… e os homens, bom… sabia que era impossível controlar tudo, assim que apenas me concentrei em fazer uma boa foto controlando apenas os momentos de apertar o botão…. Na maior parte, todos os hóspedes foram extremamente cooperativos e muitos não se importavam em serem fotografados. E muitos sugeriram que eu também ficasse nua para poder entrar clima!!

Apenas uma senhora que veio me pedir para ficar longe dela… era sua primeira experiência e ela trabalhava no senado… seguramente não ia ficar bem….

Nunca imaginei que essa matéria fosse dar tanto assunto! Segundo a diretora de fotografia do NYT, foi a matéria com maior hits online da história do jornal. E, para finalizar com chave de ouro, ganhamos o 3º lugar no POYI deste ano.

Transcrevo a nota do editor de Travel do NYT:

“Out of hundreds of entries, a Third Place award was given to the “No Shoes, No Shirt, No Worries,” cover, about nudist vacations, with photography by Adriana Zehbrauskas and David Kadlubowski, […] This is apparently the first time the Travel section has been so honored, […].”

Fotos da reportagem “No Shoes, No Shirt, No Worries”

OLHA, VÊ Quais outras reportagens você destacaria?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS Gostei de fazer a reportagem sobre os imigrantes ilegais na fronteira sul do México. Essa é uma história que já vinha querendo fazer e ia por minha conta… mas consegui convencer o repórter e no final deram a matéria muito bem. Gosto também da história das meninas do colégio interno (Girls Only). Recentemente fiquei embbeded com o exército mexicano na fronteira com os Estados Unidos. A guerra contra o narcotráfico e a violência decorrente, é, infelizmente, a maior notícia nesse momento e quase a única que interessa aos jornais americanos.

OLHA, VÊ E ter sido assistente de James Nachtwey? Como foi que tudo aconteceu?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS Aconteceu quando trabalhava na Folha. Naquela época estava à cargo da edição de domingo e o jornal queria uma edição especial para inaugurar o novo projeto gráfico cor total.

Sugeri que contratássemos o JN, cujo trabalho sempre me inspirou, para fazer uma matéria. Liguei para a Magnum, sua agência na época, mas ele estava viajando e prometeram que iriam entrar em contato. Passaram-se umas semanas e qual não foi minha surpresa um dia ao chegar em casa e encontrar uma mensagem dele na minha secretária eletrônica!

Bom, para encurtar a história, na época a colaboração com a Folha não deu certo, as datas não coincidiam. Mas ficamos em contato. Quando ele teve que vir ao Brasil para fazer uma matéria de futebol para Paris Match me chamou para trabalhar com ele. No final, me pediu para ir trabalhar como sua assistente em NY. Trabalhar com ele foi uma das melhores experiências que eu já tive. O standard é muito alto. Quando ele me entregou o molho de chaves das gavetas de todos os seus arquivos me olhou e disse: “No mistakes allowed here. Zero tolerance.”

Já em Ipanema, quando estávamos atravessando a rua, ele passou no sinal vermelho e eu fiquei esperando o carro passar. Quando chego do outro lado vejo que ele está com uma cara muito séria e diante da minha expressão de interrogação diz: “Don’t you ever hesitate. You hesitate, you’re dead.” (Nunca hesite. Se você hesitar, morre). Um conselho, que sigo até hoje.

Pude ver como ele trabalha, no campo e no estúdio. Sua ética é intocável. Continua sendo uma inspiração e um eterno exemplo a seguir.

Fotos da reportagem South Border | 2007

OLHA, VÊ Um grande tema que você desenvolveu foi sobre a fé e fenômenos religiosos no Brasil e México. Como foi desenvolvido esse projeto? Ele já é um projeto finalizado?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS Esse é um projeto muito querido para mim, e não está finalizado, ficou parado por algum tempo, por mil razões. Mas acabo de retomar-lo e estou expandindo a cobertura para Cuba e Haiti.

A idéia é finalizar até o final do ano que vem e editar um livro. Estou tentando um patrocínio mas por enquanto vou fazendo quando sobra tempo e dinheiro!

OLHA, VÊ O que lhe chama atenção na fotografia atualmente? Fotógrafos, publicações, etc. E a Fotografia Brasileira?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS Gosto muito do trabalho de agências como a Noor e VII. A lista de fotógrafos é grande, mas me chama atenção os trabalhos de Michael Robinson Chávez (LA Times) , Jehad Nga, Moises Saman, Jan Grarup e Pep Bonet.

São extraordinários. A fotografia brasileira é muito sólida e o WPP e POYI não me deixam mentir. Só gostaria de ver os fotógrafos brasileiros se aventurando mais no mercado internacional. Talento não falta!

Fotos da reportagem Girls Only | 2007

Foto da reportagem Sophie’s Backstage | 2008

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