Leonardo Costa Braga

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Leonardo Costa Braga é fotógrafo e ganhou, recentemente, o Prêmio Pierre Verger 2009 com o ensaio Homogenia. Natural de Brasília e residente em Caeté (MG), Leonardo foi finalista do Fundação Conrado Wessel com este mesmo ensaio que é composto por duas séries: Árvore e Homem.

Leonardo entrou em contato comigo e, gentilmente, enviou os dois ensaios para eu dar uma olhada. Aproveitei e fiz uma pequena entrevista. Cada ensaio tem seis imagens e reproduzo apenas duas de cada.

Série Árvore do ensaio Homogenia

OLHA, VÊ Com esse mesmo ensaio você foi finalista do FCW. Ganhar o Pierre Verger foi uma surpresa?

LEONARDO COSTA BRAGA Por um ângulo pode se dizer que sim, porque recebi um prêmio que está entre os três maiores do Brasil para ensaios fotográficos sendo que eu ainda não tinha um nome no cenário nacional, sempre achei que esses prêmios eram mais para os conhecidos dos conhecidos. Além do que, vencer uma concorrência em que os critérios de avaliação são subjetivos é uma sorte, porque haviam vários trabalhos no mesmo nível que poderiam ter ganho, tanto que no FCW fiquei entre os cinco finalistas mas não levei o prêmio. Por outro ângulo não foi uma surpresa, porque venho trabalhando com ensaios têm uns cinco anos e na minha avaliação e mesmo na de outros fotógrafos para quem apresentava meus projetos havia uma confirmação que a qualidade técnica e subjetiva era semelhante a dos trabalhos que vinham ganhando esses prêmios.

OLHA, VÊ Quais são as suas expectativas agora?

LEONARDO COSTA BRAGA Continuar desenvolvendo meu trabalho para ir aos poucos consolidando uma caminhada com fotografia.

OLHA, VÊ Fale um pouco da sua trajetória como fotógrafo.

LEONARDO COSTA BRAGA Começei a fotografar aos 19 anos por uma questão existencial de me aproximar do espírito da coisas, o que em geral chamamos de belo, ou formas e gentes que nos tocam em algum lugar do nosso ser. Com o tempo fui descobrindo que esse espírito das coisas que me atraia era apenas um reflexo do que eu estava vivendo dentro de mim e precisava usar a fotografia como um elemento de autoconhecimento e transformação da minha vida e das pessoas ou coisas envolvidas. Hoje com 36 anos, uns 10 anos de trabalho como free lancer, uns cinco anos produzindo ensaios, continuo apenas usando a visão, o equipamento e o relacionamento com o objeto fotografado do mesmo modo que no inicio.

OLHA, VÊ É interessante a sua abordagem com uma coisa tão real e corriqueira do dia a dia. Como surgiu essa ideia?

LEONARDO COSTA BRAGA De 2004 a 2007 morei em Belo Horizonte a dois quarteirões da Av. Pedro II onde vivem várias pessoas nas ruas, na sua maioria trabalhadores que catam lixo pra reciclagem. Fui me envolvendo com algumas dessas pessoas e procurando ajudar no que era mais essencial, sem produzir nada de fotografia, apenas participando de suas vidas. Com isso aos pouco fui tendo vontade de desenvolver um ensaio pra que eu pudesse me enxergar melhor naquela situação e que ao mesmo tempo gerasse algo de positivo também pra eles. Fiz um primeiro ensaio com o Firmino e a Maria, um casal na faixa dos 60 anos que tinham uma situação de vida dificílima, acabei ajudando a conseguir uma casa através de um projeto da prefeitura de Belo Horizonte, mesmo assim ela morreu um ano depois de tão doente que estava. Durante uns dois anos fui fotografando outras pessoas e várias situações diferentes até descobrir essa construção visual que me revelou o que estava querendo ver de mim e do mundo naquela experiência. Então convidei o Baiano, um desses moradores de rua e catador de material para reciclagem jogados no lixo, que já era meu amigo, pra produzir essas imagens da Série Homem.

Quando voltei pra morar em Caeté em 2008 percebi que a cada ano dos últimos quinze que vivi na cidade as árvores foram desaparecendo dos passeios ou deixadas apenas como tocos cortados sem vida, se assemelhando muito com esse visual de concreto e asfalto das grandes cidades. Olhando pra essas cenas lembrei dos homens da Avenida Pedro II em Belo Horizonte e senti que eram como se fossem uma mesma realidade, o visual parecia uma maquete criada por esse sistema moderno colocando uma cidade pequena do interior com características de uma grande metrópole. Durante um tempo fui recolhendo tocos de árvores cortadas na cidade e buscando recolocá-los em seus possíveis lugares de vida para se parecerem com aqueles homens-objetos de Belo Horizonte.

OLHA, VÊ As cores e as linhas são “personagens” tão importantes quanto o objeto principal. Foi intencional ou meramente estético?

LEONARDO COSTA BRAGA O que a linha simboliza nesse ensaio é o fim de um espaço e de um tempo para a vida do homem e da natureza. Mas está dizendo qual espaço e qual tempo porque todos sabem que essas fotos representam esse sonho moderno de cidade que transformou homem e natureza em coisas pra se construir e destruir como se fossem apenas uma maquete do sistema. A cor entra na criação questionando a função da beleza no arquétipo da evolução, em que estamos achando as fotos lindas mas no fundo elas estão mostrando situações horríveis que presenciamos no nosso dia a dia como se não fossem nada demais em nossa vidas particulares.

Série Homem do ensaio Homogenia

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