Bob Wolfenson

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QUEM | Bob Wolfenson.

ONDE | São Paulo.

PORQUE | A minha “praia” na fotografia sempre foi o fotojornalismo. Porém, como um bom apreciador da boa imagem e um atento espectador do que se faz no mundo fotográfico, sei da importância de Bob Wolfenson neste cenário. Agora que li o seu livro, “Cartas a um jovem fotógrafo – O mundo através das lentes”, fiquei com mais interesse em “ouvir” Bob Wolfenson. Sem dúvida, recomendo o livro para o jovem, velho, novo, iniciante… Enfim, qualquer fotógrafo.

* Agradeço ao amigo Eugênio Sávio pela intermediação no contato com Bob.

Site de Bob Wolfenson.

Currículo fornecido pelo fotógrafo:

1954 – Nasce em São Paulo.

1966-67 – As primeiras fotos.

1970 – Ingressa como estagiário-aprendiz no estúdio fotográfico da Editora Abril na época dirigido pelo fotógrafo Francisco Albuquerque e lá permanece por 4 anos.

1973 – Ingressa na Faculdade de Ciências Sociais na USP.

1974 – Sai da Editora Abril e começa carreira solo como fotógrafo free-lancer para revistas da própria editora.

1982 – Viaja a Nova York e trabalha como assistente para o fotógrafo Bill King.

1985 – Começa a trabalhar para as principais revistas brasileiras.

1989 – Faz a primeira exposição individual Minhas Amigas do Peitona – Galeria Fotóptica.

1990 – Lança livro e exposição Portfolium na Galeria Collector’s, desta coleção duas fotos são adquiridas pelo MASP para integrar seu acervo.

1991 – A Pirelli adquire e expõe três de suas fotos que passam a integrar a Coleção Pirelli de Fotografia. A Revista Gráfica número 30, publica uma matéria de 16 páginas sobre seus trabalhos.

1995 – Ganha o prêmio Funarte – Ministério da Cultura de melhor fotógrafo do ano na categoria arte aplicada pela campanha para a griffe Viva Vida realizada em Israel. A revista Vogue publica edição especial sobre seus trabalhos.

1996 – Realiza a exposição Jardim da Luzno MASP (Museu de Arte de São Paulo) e lança livro do mesmo nome, co-editado pela Cia das Letras e DBA Books and Arts. A revista Photo francesa publica 4 páginas a seu respeito dentro de um número especial sobre o Brasil.

1997 – Recebe o prêmio Phytoervas Fashion Awards como melhor fotógrafo de moda do ano.

1998 – Indicado novamente ao prêmio Phytoervas Fashion Awards.

1999 – Convidado pela Marlboro Adventure Team para fotografar no âmbito do seu concurso no México e nos Estados Unidos (Utah).

2000 – É novamente indicado ao prêmio de melhor fotógrafo de moda do ano pela ABIT. O trabalho para Marlboro Adventure Team resulta num livro em conjunto, com o fotógrafo J.R. Duran editado pela Bookmark. Co-edita e lança a revista de imagem, moda, comportamento e fotografia 55.

2002 – Associado à gráfica Litokromia e aos designers Hélio Rosas e Roberto Cipolla, lança a revista S/Nº, que sucede a extinta 55. Realiza exposição “Moda no Brasil por Brasileiros” no Pavilhão da Bienal no âmbito do “São Paulo Fashion Week”.

2003 – Lançamento do livro “Moda no Brasil por Brasileiros” em parceria com Paulo Borges, editado pela Cosac & Naify. Edita e fotografa integralmente o número Voyeur da revista Homem Vogue.

2004 – Ganha o primeiro prêmio da Fundação Conrado Wessel, concedido exclusivamente aos fotógrafos de publicidade pela melhor fotografia publicitária do ano de 2003 (Campanha da Grendene com a modelo Gisele Bündchen). Lança a caixa/livro de fotografia contendo as séries Antifachada e Encadernação dourada, pela editora Cosac&Naify e realiza exposição respectiva, no Museu de Arte Brasileira da FAAP em São Paulo.

2005 – Em parceria com o fotógrafo Fernando Laszlo realiza a curadoria da Exposição do fotógrafo brasileiro, radicado em Nova York, Otto Stupakoff, no espaço do São Paulo Fashion Week.

2006 – Fotografa para a décima edição do São Paulo Fashion Week, o Calendário das 25 mais importantes modelos que fizeram parte da história do evento, figurando entre elas as tops Gisele Bündchen, Isabeli Fontana e Raquel Zimmermann.

2007 – Exposição itinerante, “À Moda de Bob Wolfenson”, retrospectiva sobre suas fotografias de moda, na FAAP – Ribeirão Preto e FAAP – São José dos Campos. Exposição de 15 imagens em grande escala, “A Caminho do Mar”, sobre paisagens industriais evocativas da infância, na Galeria André Millan – São Paulo.

2008 – Ganha o prêmio de melhor fotógrafo de moda e melhor fotógrafo de publicidade, outorgado pelo evento, O Melhor da Fotografia no Brasil, que congrega somente curadores, fotógrafos e pesquisadores da área.

2009 – Escreve e lança o livro “Cartas a um jovem Fotógrafo” sobre experiências da sua trajetória e vida profissional. Lança a caixa-livro-portfolio, Cinepolis, sob a curadoria e direção artística do fotografo e curador internacional Pierre Devin editado pela Schoeler Editions.

José Celso Martinez Corrêa

Wagner Moura

OLHA, VÊ O seu livro “Cartas a um jovem fotógrafo – O mundo através das lentes” já começa com uma constatação bem realista e, de certa forma, íntima: “A fotografia é antes de tudo meu ofício, o que tecnicamente sei fazer, […]”. Atualmente, acho bastante pertinente relacionar “ofício” com o fazer fotográfico. Como esse o ofício, a técnica, flui em pensamentos e ideias no seu trabalho?

BOB WOLFENSON Bom, como digo em meu livro, não sou escravo da técnica no sentido em que vejo muitos fotógrafos serem, aqueles que tem um sem número de equipamentos ficam um pouco a mercê deles e dos efeitos fáceis. Mas, respondendo mais diretamente a sua pergunta, eu diria que não tenho uma única premissa. Muitas vezes, opero uma 35mm sem grandes preocupações, sem nenhum assistente como fiz agora com um trabalho que lancei: Cinépolis. Outras vezes, trabalho com uma câmera 8×10, que pressupõe um aparato grande em volta e no mínimo, 2 assistentes, pra ficar só nestes 2 exemplos, ou seja, cada trabalho que penso ou que invento esta diretamente relacionado com sua possibilidade ou impossibilidade técnica. Se bem que, acho sempre bom pensar na impossibilidade como algo a ser superado.

OLHA, VÊ Como a fotografia entrou na sua vida?

BOB WOLFENSON Foi mais uma contingência de vida do que propriamente uma vocação descoberta. Quando eu tinha 16 anos, meu pai faleceu, resolvi trabalhar e o trabalho que arranjei foi no estúdio fotográfico da Editora Abril, na época, dirigido pelo grande fotógrafo cearense Chico Albuquerque. A partir daí fui me tornando, digamos assim, mais vocacionado para a coisa, mas só realmente alguns anos mais tarde é que me dediquei a ser fotógrafo em tempo integral.

OLHA, VÊ Você fala que a “divulgação” da sua experiência americana havia funcionado para conseguir um editorial na Vogue, dirigida por Regina Guerreiro, mesmo sem apresentar portfólio. Todo o livro está recheado de observações bem serenas de como foi a sua trajetória na fotografia. De certa forma, você se abre bastante. Ainda hoje, existe essa coisa de fulano “veio” de Nova York. Sicrano trabalhou com Avedon, etc?

BOB WOLFENSON Hoje acho que menos, o mundo diminuiu de tamanho e ter estado em Nova York, já não é uma experiência tão difícil, no sentido que mais pessoas têm acesso a informações, na época somente possíveis in loco. Porém, alguém que tenha trabalhado com Avedon teria um grande currículo na mão em qualquer lugar do mundo, inclusive hoje em Nova York.

OLHA, VÊ Você cita que no início havia uma “rivalidade” com J. R. Duran que dura até hoje e até confessa que foi a “propulsão do seu desenvolvimento”. Você fala em opostos. Que opostos são esses?

BOB WOLFENSON Xi sei lá, talvez algo ligado as nossas personalidades, e portanto ao nosso trabalho. Entendo um pouco o que esta subjacente à sua questão, pois quem está olhando para o tipo de fotografia que nós dois exercemos, acha que somos da mesma cepa e, de fato, muitas vezes somos confundidos. De qualquer maneira, este “confronto”, seja com quem for, sempre é um fator de crescimento. Quando se olha para o trabalho de um outro com alguma admiração, em geral, penso que idéia sensacional porque não pensei eu nisso tenho que me mexer.

Otto Stupakoff

Carol Trentini para revista Elle, 2009

OLHA, VÊ Sobre a fotografia publicitária você é muito consciente do papel que o fotógrafo, muitas vezes, tem que ter. Algumas vezes, ser um mero fotógrafo para cumprir o que o cliente quer, como você fala no livro “o pedido chega meio mastigado”. A sua posição é muito consciente – não tão comum em fotógrafos experientes e famosos. A dicotomia do “autor” versus o “clicador”. A fotografia publicitária está cada vez mais indo na direção de re-fotografar tal referência?

BOB WOLFENSON Salvo raras exceções, a fotografia publicitária sempre foi isso. É uma engrenagem muito grande com muitas instâncias de aprovação, e sempre tem um cliente/agência que quer vender sua marca e/ou produto, contra um fotógrafo com veleidades artísticas e muitas vezes ideológicas. No entanto, depois de anos de experiência, acho que a fotografia publicitária não é o palco apropriado para este embate. É lógico, que não se deve abandonar princípios de integridade e eficiência, mas é necessário se entender o alcance deste tipo de trabalho para o fotógrafo. Contudo, o que ocorre hoje é que a fotografia publicitária deixou quase de ser fotografia pura. Ela é quase sempre uma montagem de vários clicks, o que justifica um pouco a anulação da autoria para o fotógrafo. O fotógrafo publicitário equivale a um DJ que mistura ritmos e sampleia outras músicas (as tais referências que você alude acima), para fazer o seu singular trabalho. Não acho isso, nem melhor nem pior do que antes, é o que é.

OLHA, VÊ Tem um trecho do livro que você analisa: “Estamos vivendo em uma época de imagens demais, nos intoxicamos de tanta informação visual. […] Todos os temas parecem já ter sido explorados, o que torna nossa vida muito difícil. […]”. O fotógrafo deve pensar sempre em fazer o “novo”? O “novo” não seria a visão de cada autor?

BOB WOLFENSON Você tem razão, concordo plenamente, mas a questão é a profusão de imagens a que estamos submetidos o que torna esta “visão” difícil de ser encontrada.

OLHA, VÊ Com a tecnologia digital, aquele “tempo/relação” de esperar para ver o filme revelado, as cópias e todo o resto se perdeu. É apenas um saudosismo ou um valor agregado ao produto final?

BOB WOLFENSON Eu acho hoje mais gostoso, se é a isso que você se refere. Em termos de processo, de ritual, houve uma alteração monumental, olha bem, eu trabalhei por mais de 30 anos no processo analógico, fiz uma passagem para o digital há uns 3 anos e não tenho saudades do processo anterior no que diz respeito a feitura do trabalho. Em termos de resultado técnico, acho que, há ainda alguns degraus a subir.

Gisele Bündchen

OLHA, VÊ Durante toda a sua carreira, qual foi a maior evolução tecnológica que você presenciou e que mudou o seu modo de trabalhar?

Sem dúvida, o processo digital.

OLHA, VÊ Sem colocar na balança questões como digital vs. analógica ou a tecnologia inerente nos equipamentos mais novos. Qual câmara e lente você escolheria para levar carregar na sua bolsa para sempre? Ou seja: a combinação perfeita para você.

BOB WOLFENSON A que eu carrego, uma Leica M8 digital.

OLHA, VÊ O que lhe chama atenção na fotografia atualmente?

BOB WOLFENSON Não sou cartorial, não acho que a fotografia tem que ser pensada como algo destacado do conjunto cultural todo. Esta idéia de que precisamos fazer algo pela fotografia do Brasil, me parece sempre uma idéia de associação sindical, o que, em geral, do ponto de vista artístico empobrece muito a discussão. Entendo que a fotografia possa ser tudo, até uma anti-fotografia, se porventura seus autores assim o quiserem. Os cânones pelos quais zelam muitos fotógrafos não me comovem e na maioria das vezes estão ligados a idéias de guetos e a purismos tradicionalistas, que são impossíveis de serem mantidos nos dias de hoje. Me identifico com a ideia de estar em trânsito de passar por várias disciplinas. Como no seu caso, você é fotógrafo, escreve, tem blog e agita a cena fotográfica no Recife. É onde encontro este tipo de manifestação que me chama atenção. No Pará há um movimento de fotografia muito grande também que extrapola os limites das meras discussões sobre se um trabalho é bom ou ruim. Deve haver muitos outros que desconheço.

Nos grandes centros, como Rio e Sampa pipocam muitas correntes. Para me ater à Moda que é um dos meus principais métiers: de tempos em tempos, surgem novos talentos e há ainda os que continuam, como outros e eu que fazem da fotografia de moda um canal de expressão importante. A atual difusão da fotografia tanto da audiência, como de praticantes, permitiu um conhecimento e um olhar geral mais apurado e treinado para as sutilezas da coisa toda. O interesse pela fotografia hoje comparado ao tempo em quem iniciei é impressionante e este suscita através da quantidade uma qualidade muito maior. Não saberia nominar quais e quem são os novos talentos, porém como editor de uma revista de imagem (S/N) tenho prestado mais atenção a todas estas ondas.

Quanto as revistas, também comparadas aos tempos em que me iniciei , elas ganharam muito na qualidade de impressão, e vez por outra tem alguma que salta aos olhos. Existem hoje muito mais livros e publicações onde a fotografia ganhou um protagonismo sem precedentes. A CosacNaify é exemplo de uma casa editorial sensível a fotografia, ou seja, há todo um movimento em progresso com as grandezas e misérias que este suscita..

OLHA, VÊ Hoje, o que lhe atrai fotografar ou ainda pensa em fazer?

BOB WOLFENSON O grande fotógrafo brasileiro Otto Stupakoff, morto há dois meses, dizia que fotografava sem a câmera, só com o coração e a mente. Entendo-o perfeitamente; acredito mesmo que o excesso de equipamento e as máquinas muito sofisticadas, às vezes, tornam-se um complicador diante da celebração que são os “encontros” das sessões fotográficas. É certo que aquela afirmação, de Otto era uma boutade, mas o sentido desta frase é também um norte para mim, não gosto de pensar temas que não sejam concernentes, ou melhor, que não tenham a ver com o que penso e sinto. Neste sentido tudo que fotografo tem a ver com a minha vida, minha existência. O que me atrai hoje são estas articulações entre o trabalho todo; o texto, as fotos, o nexo comigo, com a época e com o país. O ato de fotografar para mim não é sagrado, nos termos em que pensava CartierBresson e Capa. A fotografia que faço é uma dramatização, uma ficção, que pode ir desde um formato meio road movie feitas com minha Leica digital como em Cinépolis, até trabalhos extremamente compostos como o caso das Antifachadas, passando pelo estúdio onde ocorre a maior parte do que realizo .

E como diz o fotógrafo-filósofo, Penna Prearo, “fotografia é cinema de breque”.

Série A Caminho do Mar, 2007

Série Antifachada, 2004

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