Tenho falado muito em andar e se perder pelas ruas de Paraty. Ao encontrar um amigo na mesa de um café, ele me disse que assim andando e me perdendo eu estava a um passo de ficar louco. Pronto! Foi o estalo que faltava para me dar impulso em ir visitar a exposição na Galeria de Babel no Iphan.
Sabia que por lá estava um belo trabalho sobre a loucura, Gui Mohallem, que já expôs em NY e outros bons cantos do mundo, estava dividindo uma sala com Eduardo Muylaert e Martin Gurfein, mostrando seu trabalho sobre a loucura de cada um.
Rapaz… as primeiras imagens que joguei o olhar foi no trabalho do Eduardo, que eu já conhecia, mas é sempre muito saboroso poder degustar estas imagens. A pequena Paraty, já sentia os ventos frio do final da tarde, o céu já estava mais escuro e denso. Pronto! Prato cheio para me jogar na loucura alheia. Primeira coisa a me chamar a atenção foi a força das imagens do Gui, jogando mais atenção no seu trabalho, os detalhes brilham, ajudando a compor sua obra.
Ampliações perfeitas, montagem impecável. Para completar a monitora da sala, conhecia tudo do trabalho dos meninos, foi solicita sem ser chata. E pra terminar, você ainda pode sair marcado da exposição. Para ter acesso a pequenos textos sobre a loucura de cada personagem, Gui nos oferece um carimbo ao lado das ampliações, que presionado contra a pele, marca, como uma fulgas tatuagem, pensamentos dos personagens.
Depois da exposição na Galeria Babel, poucos passos me separavam de uma cerveja, que como diz o povo de Pernambuco, uma cerveja nos ajuda a pensar melhor…
Sentado à mesa de um bar nas proximidades da tenda da Matriz, que agora à noite vai acontecer projeções fotográficas, com curadoria da competente Ilana Bessler, comecei a escrever um pouco sobre a exposição do Gui, e atento ao relógio para não perder o encontro das 19 horas também na casa da Cultura, com o fotojornalista Italiano, Francesco Zizola.
Confesso que embora conhecendo o trabalho de Zizola, sabendo dos seus 7 prêmios no World Press Photo, mais tantos outros prêmios importantes conquistados em todos os cantos do planeta, não estava muito animado. Pra falar a verdade, pensei que seria um pouco mais do mesmo, afinal hoje em dia as discussões sobre fotojornalismo tem sido sofríveis, assim como o fotojornalismo que consumimos.
Que surpresa… o romano que fala português com grande desenvoltura, mostrou não só um pouco do seu trabalho nos últimos anos, mas desenvolveu um raciocínio extremamente lúcido e por que não dizer, ácido sobre os meios de comunicação, sobre editores, ética e respeito.
Falou de sua infância as primeiras percepções sobre a fotografia, seus estudos, sua formação em antropologia, seus ideais como pessoa e como jornalista, de maneira simples, respeitosa e direta.
E quando achávamos que tudo já estava completo, ao terminar de responder as perguntas da platéia, nos brinda com uma edição de imagens de pouco mais de 3 minutos, com fotos mostrando o Rio de Janeiro.
Ao voltar para a pousada, tentando equacionar, não cair nas pedras das ruas e ficar namorando a beleza da lua crescente, só pude agradecer aos deuses por ter profissionais como Francesco, exercendo a profissão de fotojornalista. Certamente um ganho para este nosso mundo tão complexo, que Zizola registra e eterniza com tanta maestria.
Por Toni Pires.
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