Uma contribuição de uma querida colega: Adelaide Ivánova. Adelaide, recifense moradora de São Paulo, passou três meses na Europa e ofereceu os seu texto para o Olhavê. Sou fã das suas fotos, fã das suas crônicas (publicadas no Pernambuco – Suplemento Cultural e pouco difundidas) e já fizemos uma exposição juntos que foi o bicho. Adelaide foi uma das primeiras entrevistas do Olhavê, quando o blog estava engatinhando.
Fotos: Adelaide Ivánova
Exposição “Robert Mapplethorpe – Polaroids and silver prints in context”
Acabei de voltar de três meses de mochilagem nas Oropa. Foi massa.
Em julho eu estava na Espanha, então deu tempo de ir ao FotoEspaña, sobre o qual vocês leram neste blog (então vou nem falar sobre isso). Aí, depois de Madrid, fui para Itália – e só fiz comer. Perdoem-me, mas é que eu achei que depois de tantas vivências maravilhosas no FotoEspaña (Annie Leibovitz, brigada por tudo!) nada mais ia me surpreender.
Deixei a Sicília redonda como um rebatedor… mas um pouco sedenta de outras coisas que não fosse vinho. Aí fui para a Alemanha e lá gastei uma pequena fortuna em museus – e valeu cada centavo. Ofereci meus préstimos ao meu querido Belém para falar um pouco sobre o que vi, e escolhi quatro expos. Três estão em cartaz em Colônia, cidadezinha fofa no oeste da Alemanha, e a outra é em Berlim.
Robert Mapplethorpe – “Polaroids and silver prints in context”
Mapplethorpe é um desses caras cuja marca é tão forte na história recente da arte que já influenciava minhas fotos antes mesmo d’eu saber que ele existia. Quando vi as coisas dele pela primeira vez, pensei: “Ora merda, e eu me achando criativa”.
Pois bem. Esta expo está em cartaz numa galeria pequenina em Colônia, em duas salinhas brancas que recebem as polaróides e os trabalhos da fase final de Mapplethorpe.
As pólas ele fazia quando começou a fotografar, e são bem mais experimentais e espontâneas. Eu gosto muito, especialmente do fato que você tem que praticamente encostar sua fuça na moldura pra ver direitinho. Dá uma sensação de proximidade da obra, mas eu só tô falando isso porque sou fã. Talvez uma pessoa com hipermetropia não curta tanto…
Depois, do meio da década de 70 até o fim de sua carreira, ele clicou com uma Hasselblad que ganhou do namorado-marchand. O massa das fotos em médio formato dele é que ele continuou, durante um tempo, fotografando com a mesma leveza da época das pólas – retratos dos amigos (Patti Smith, musa, aparece na expo), dos pessoal com quem ele transava etc. Depois ele foi ficando mais “grego”, e cuidava (muito) mais da luz e da composição. Foi nessa época que ele começou a clicar freneticamente Lisa Lyon (tem foto dela lá também), com seu corpo perfeito, e outros amantes de corpo escultural, e modelos contratados igualmente privilegiados no lay-out. E também flores, que ocupam grande parte das paredes da Galeria Röpke. Ah! E a famosíssima Mr. 101/2 tá lá também!
O massa dessa expo, além do fato de ela ser de Mapplethorpe (hihi) é que ela não separa as polaróides das fotos feitas com Hassel – de modo que dá para ver tanto as congruências quanto as incoerências do trabalho dele.
Eu roubei uma fotinho e tomei bronca da moça, mas se você quiser ver mais do que tem lá, tem aqui.
A Galeria Röpke fica na Sankt Apern Straße, 17 e a expo fica em cartaz até o dia 17 de outubro.
Museum Ludwig, com a famosa catedral de Colônia atrás!
Cindy Sherman, Untitled #222, no Museum Ludwig
Meisterwerke aus der fotografischen Sammlung – eine neue Galerie für die Fotografie
Se tem uma coisa que alemão gosta é de falar comprido. E essa nomaiada toda é o nome da expo de fotografia que, atualmente, está em cartaz no Museu Ludwig, também em Colônia.
Esse museu é fuderoso – tanto as exposições temporárias quanto as permanentes são de chorar. E, em relação à fotografia, eles seguem o próprio padrão de qualidade – é deles, por exemplo, a coleção Agfa e a coleção Lebeck. Além disso, têm em seu acervo várias obras da série Untitled, de Cindy Sherman, o que para mim diz muito sobre a (boa) qualidade de um museu hahaah.
A expo que está em cartaz agora, portanto, é um mini-apanhado dessas coleções e mais: marca a inauguração de uma galeria completamente dedicada à fotografia, dentro do Ludwig. A montagem é simples e direito ao ponto: numa sala cinza clara, fotos com o mesmo tamanho e colocadas numa fila horizontal e monótona que não tira sua atenção daquilo que importa (a foto).
São 70 imagens de fotógrafos iniciantes como George Hoyningen-Huene, Irving Penn, Weegee, Edward Steichen, Cecil Beaton, Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau, Margaret Bourke White, Edward Weston, Alfred Stieglitz e André Kertész. Lá, vi também o trabalho de alguns fotógrafos alemães, dos quais eu nunca tinha ouvido falar antes (perdoem minha ignorância caso eles sejam velhos conhecidos vossos): Umbo (Otto Umbehr), Heinrich Köhn e Chargesheimer, meu novo preferido.
Com tantos Adjektive, me sobra pouco para falar sobre a expo, além de: assim que der, pegue um avião e vá (uma vez que a expo fica em cartaz até 31 de janeiro de 2010)!
Ah, um p.s. sabido: eu passei mal com um trabalho da croata Sanja Ivekovic chamado Triangle, de 1979. Apesar de não ser russa, Sanja é uma das artistas que integra a coletiva Russische avantgarde, em cartaz no Ludwig até dezembro. Eu não vou estragar falando sobre ele, aqui dá para ver e entender tudo.
Outro p.s.: não tirei foto da expo Meisterwerke (…) porque tinha uma guardinha insistente a me vigiar, mas consegui clicar uma das obras de Miss Sherman, que faz parte da exposição permanente do Museu Ludwig.
Para saber mais sobre a Meisterwerke (…) clique aqui.
O Museu Ludwig fica na Heinrich-Böll-Platz (atrás da Catedral famosa!).
por Adelaide Ivánova.
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