Na última terça-feira, em São Paulo, aconteceu a projeção das fotos do projeto “O último rolo”. O amigo Eduardo Muylaert colabora com o Olhavê e faz um relato de como foi a noite e o projeto.
Foto: Clemente Gauer
O último rolo
Por Eduardo Muylaert.
“EEEHHHH!!!! Foi demais a projeção, um projeto inesquecível. Viva o Dimitri e todos que participaram. Vamos agora para uma exposição e um livro, por que não?”
A explosão de entusiasmo é do fotógrafo Cássio Vasconcellos, um dos 30 participantes do projeto “O último rolo”, imaginado, proposto e patrocinado pelo fotografo Dimitri Lee, o mestre da 8×20. “Vi na tela uma São Paulo incrivelmente misteriosa, um material muito muito bom”, comentou Ricardo Van Steen.
O clima era de ansiedade ontem na FNAC Pinheiros, em São Paulo, quando, por volta de 20 horas, iniciou-se uma seção de projeção de slides. Sim, o mergulho no tempo foi completo. Velhos projetores Kodak de carrossel do acervo de Iatã Cannabrava foram ressuscitados, com lâmpadas a custo achadas na rua Santa Ifigênia. Mas a tensão não vinha só de saber se o equipamento ia funcionar. Cuidadosamente arrumado nos carrosséis, estava o material bruto da maioria dos participantes. Normalmente o fotógrafo esconde seus contatos, negativos e cromos. Faz sua própria edição e, só então, libera o que acha digno de seu talento.
Ontem essa regra foi quebrada. Só dois participantes fizeram sua edição prévia. Os demais, muitas feras da fotografia, como Gal Oppido, Penna Prearo, Andreas Heiniger e Hilton Ribeiro aceitaram o desafio de se mostrar a nu, com seus erros e acertos. Ninguém se arrependeu de ter dado a cara a tapa, pois o que se viu foi um desfile sensacional de visões diferentes e muito ricas.
A idéia era a de celebrar a fotografia analógica, a química do século XX e fazer uma solene despedida do velho Kodachrome, já em vias de extinção.
Dimitri Lee comprou os últimos 30 rolos disponíveis da celebrada película, distribuiu-a a 30 fotógrafos amigos e todos tinham o dia 20 de setembro de 2009 para fazer as 36 imagens. Os filmes foram entregues num requintado café da manhã na escola Full Frame, do Professor Thales Trigo, também participante. A devolução foi no mesmo dia, a partir de 19 horas, no bar Genial, na Vila Madalena. A revelação foi feita na Dwayne’s Photo, em Parsons, Estados Unidos, um dos últimos laboratórios a revelar o Kodachrome.
Evento de nostalgia, experiência e também de amizade, todas as etapas foram marcadas pela ingestão de lúpulo, malte e/ou cevada. Ontem mesmo, após a projeção, com requintes de champanhe, música ao vivo e muitos aplausos, a bebemoração foi novamente no Genial.
O elenco contava ainda, entre outros, com Roberto Linsker, Armando Prado, Daniel Klajmic, Ângelo Pastorello, Marcos Ribeiro, Marcelo Dantas, Tuta, Luigi Stavale, Martin Gurfein, Toni Freder, Fausto Chermont, Silvio Pinhatti, gUi Mohallem, e Clemente Gauer. Eram só três mulheres, mas Fernanda Sá, Helena Martins Costa e Helô Mello deram um show. Todas as etapas foram filmadas por Edu Pupo, encarregado da produção do documentário. Patrícia Oriolo coordenou o projeto. Já se discute a impressão em processo direto, produção de um livro e exposição.
A experiência vivida, no estágio atual, já é um completo sucesso. Graças à generosidade e iniciativa do genial Dimitri Lee, celebrou-se a um tempo a fotografia e a amizade. Sem qualquer interesse comercial, produziu-se um material incrível, homenageou-se toda uma era da fotografia, simbolizada no fantástico Kodachrome e consolidaram-se muitas amizades.
É disso que é feita a fotografia, técnica, lembrança, emoção e muito calor humano. Valeu. Se o Kodachrome morreu, viva o Kodachrome.
Fotos: Fernanda Sá | Carrosséis com os slides montados
Noite de projeção
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