Através de um corpo

Deixe um comentário

Foto: Priscilla Buhr – AutoDesconstrução

Corpos habitam as fotografias. É assim, desde sempre. E eles prodigiosamente não se esquivam. Presos na imagem, se revelam, provocam, se contorcem, falam, perguntam, duvidam, questionam, sonham, desejam, se descobrem…

Quando ela resolve experimentar seu corpo, um mundo paralelo passa a ganhar forma. Ao se autofotografar, o corpo feminino é investigado e diluído no vazio negro da escuridão. Os fragmentos desse corpo emergem através de certo diálogo íntimo com feches de luz. A imagem, que começa a surgir dessa reflexão consigo mesma, já não corresponde ao que a autora pode articular, mas sim ao que a fotografia lhe apresenta. O acaso e a ausência do olhar por trás da câmera passam a deslocar a sensação de controle que temos ante a própria identidade.

Assim, livre de artifícios, sozinha, sem espelhos, trancada consigo mesma, seu corpo tornou-se vestígios que narram sugestões e sentidos só percebidos pela câmera fotográfica. Serenamente, vemos a cartografia sensível deste corpo desvelar-se em hipérboles da realidade imaginada pela fotografia.

Nesta primeira exposição da jovem fotógrafa Priscilla Buhr, a força poética é consequência de um caminho dos mais complexos e emaranhados da expressão fotográfica: perceber que somos o que imaginamos ou o que buscamos. Por que se autofotografar? Não será porque a fotografia é a pretensão de desconstruirmos nosso olhar? Por pensarmos que somos UM até vermos nosso retrato?

As imagens do ensaio AutoDesconstrução são íntimas, sutis, inquietas. Não por serem femininas, mas, muito mais, por terem sido determinadas pela dúvida, pela coragem em cair no limbo complexo de ser ao mesmo tempo autora e tema. Nesse processo, a beleza e a suavidade do corpo nos levam para um imaginário repleto de subjetividade e de novas percepções. Fotografias que silenciam o prosaico e, sutilmente, conotam o frescor no não-visto.

* Texto de apresentação da exposição AutoDesconstrução da fotógrafa Priscilla Buhr que ficou em cartaz – em dezembro de 2010 – no Mamam no Pátio, Recife.

Deixe um comentário