Leo Caldas

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Foto: Robert Capa – Praia Omaha, Normandia, 6 de junho de 1944, o Dia D

Por Leo Caldas.

Desde que vi pela primeira vez no Olhavê a seção “A foto que eu queria ter feito”, e isso já foi há um ano e meio, escrita por Eder Chiodetto, em seu texto muito bem composto – falava de uma foto da sua mãe quando criança – é que me ocorreu esse texto.

Na realidade, muito antes dessa seção no Olhavê, esse texto já existia em minha cabeça.

Quando eu nasci, em 1973, meu pai já tinha seus 52 anos. Quando ele partiu para guerra em 21 de maio de 1943 minha mãe tinha apenas dois anos. A diferença de idade do meu pai para minha mãe era de apenas 19 anos. Meu pai partiu para Itália, mais precisamente, para Nápoles. De sua presença em solo italiano nunca ouvi uma única palavra. Possuo apenas o que restou de herança após sua morte: a plaquinha em que usou na campanha e um anel de souvinier comprado na cidade de Pompéia.

Tenho um amigo fotógrafo que sarcasticamente brinca que “fotógrafo que presta, fotografa nu feminino para revistas masculinas. O resto vai fotografar outras coisas”. Prefiro brincar dizendo que fotógrafo que presta fotografa guerra, conflitos… Os outros vão fotografar outras coisas. Nesse intervalo entre a publicação da primeira seção do “A foto que eu queria ter feito” e o presente instante, foi lançado recentemente o livro Robert Capa – Ligeiramente fora de foco.

Lendo o livro fui reforçando mais o desejo em afirmar que as fotos do desembarque da Normandia é sim uma foto que eu queria ter feito. Mexe um pouco com esse mistério que foi um trecho da vida de meu pai e sem dúvida mexe comigo também. Um fotógrafo frustrado de não ter “nunca descoberto sua alma” como afirma Capa (página 99), quando jovens paraquedistas se preparam para saltar sobre a Sicília.

Na página 147, outra afirmação que me familiariza ainda mais: “Em Pompéia, um dos soldados começou a delirar com as pinturas eróticas nas paredes das ruínas antigas”, pura tolice. Mas me orgulho de ter o tal anel de Pompéia. Não que esteja fazendo apologia à guerra, mas o papel do fotógrafo de guerra é justamente mostrar à humanidade como é cruel e atroz o dia a dia de um combate.

Portanto, não só a admiração por toda a obra de Robert Capa, mas me pego sempre como um tolo a imaginar quando me deparo com as fotos do Dia D tentando descobrir em cada rosto daqueles soldados borrados e “ligeiramente fora de foco” o rosto do meu pai, mesmo sabendo que as tropas brasileiras estavam a muitos quilômetros daquelas praias.

E nesse devaneio tolo me imagino como um Capa. A mim, resta apenas a batalha da guerra do dia a dia e afirmar que a foto que queria ter feito é a do Dia D, o Desembarque da Normandia.

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