Alejandro Zambrana

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Fotos: Alejandro Zambrana – Ensaio “Lambe Sujo e Caboclinhos” (2001-2010)

Lambe Sujo e Caboclinhos são ensaios que nos puxam pelo viés documental, muito pelo fato de anunciarem manifestações populares. Outra questão ainda enfatiza essa denotação. Quando nos chega à informação de que o fotógrafo Alejandro Zambrana registra há dez anos esses tradicionais festejos sergipanos, sofremos de certa inclinação natural ao perceber o tema por seu vigor cultural – que em parte agrega o enlevo do exotismo. No entanto, quando apreendemos a estética do ensaio, a história em narrar contextos populares passa a mobilizar outras vertentes subjetivas.

Alejandro Zambrana traz através da saturação da cor o encantamento de desprender-se do óbvio. As tonalidades revelam-se densas, laboriosas ao olhar. Ou seja, a percepção visual integra-se sorrateiramente nas composições. Lugares, pessoas, gestos, encenações e festividade recombrem-se de uma beleza icônica capaz de permitir que a imagem se alargue em sua dimensão conotativa. A partir desta tradição que ocorre todo ano no mês de outubro e que representa a batalha entre negros e índios pela conquista das terras da região do Vale do Continguiba (Sergipe), Zambrana envolve sua investigação visual de forma expressiva e sedutora.

O fotógrafo sergipano centra o recorte temático tanto na “batalha” dos lambe sujos e caboclinhos como nas situações para a produção do festejo, em seus personagens e nos adereços. A pesquisa visual é extensa, compreendendo as mudanças na encenação durante o período de dez anos ao qual se dedicou Zambrana. A longevidade da produção dos ensaios confere alguns bons motivos para considerarmos que o trabalho de Zambrana está próximo da Antropologia. De uma Antropologia que documenta, inventaria; mas que também assimila o olhar sobre a manifestação cultural como elaboração interpretativa da percepção. Olhar esse que considera o outro em suas particularidades como a pista para compreendermos a magnitude simbólica e poética que dá sentido às tradições, a códigos sociais, rituais simbólicos, que fortalecem a memória e a história. A Antropologia já percebeu que a imagem testemunha, mas que desvela também a delicadeza e abundância da subjetividade no campo fotográfico – neste, discutimos o porquê da imagem e seu valor de fabulação. A fotografia de Alejandro Zambrana também encontrou esse caminho.

Por Georgia Quintas, abril de 2011.

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BIOGRAFIA

Aracaju (SE), 1978

Alejandro Zambrana é fotógrafo profissional desde 2007, trabalha atualmente na Prefeitura Municipal de Aracaju. Formado em Rádio e TV pela Universidade de Pernambuco, desenvolveu experiência fotográfica ao estagiar no Diário de Pernambuco. Apesar de pouco tempo como profissional, possui significativa vivência na fotografia, com passagem por jornais, assessorias e campanha eleitoral. Também desenvolve trabalhos autorais, que já foram expostos no Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Aracaju.

Nos últimos quatro anos vem alternando trabalhos de reportagem e assessoria fotográfica com a documentação que vem desenvolvendo sobre o circuito das romarias do Juazeiro do Norte e o acompanhamento dos festejos dos Lambe Sujos. Em 2011, o fotógrafo inicia um novo projeto de documentação das Taieiras de Laranjeiras, que foi recentemente aprovado pelo edital 2010/2011 do Banco do Nordeste do Brasil.

Alejandro Zambrana também é um dos integrantes do Trotamundos Coletivo. Pesquisa o uso da cor no discurso fotográfico, em especial por meio do uso de filmes positivos (slides). A maior parte de seu trabalho de documentação é desenvolvida em filme, embora a fotografia digital também apareça como suporte de seus trabalhos e no cotidiano de repórter fotográfico. Recentemente, vem se dedicando ao estudo da fotografia em ambiente multimídia e às possibilidades de convergência para a elaboração de narrativas visuais.

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