Feche os olhos e tente visualizar a ideia do seu medo mais íntimo. O esforço da construção dessa imagem é também o arquivamento do inconsciente e consciente que dá significação à sensação e seu discurso de símbolos. Bem, de todos os modos ele será só seu.
A fotógrafa mexicana Cannon Bernáldez busca plasmar miedos neste ensaio. Não identidades definidas e tampouco a experiência documental. O recurso é a criação. Transbordar esquemas que insinuem algo, nem muito contundente nem muito plausível. Cannon Bernáldez fecha os olhos e imagina. A fotografia portanto segue relatando as minúcias de medos mais próximos da sensação diáfana do que do concreto.
Coelho, pernas com meias lúdicas, espaços vazios, vestidos não vestidos, sapatos sem donos. Enfim, elementos estéticos que costurados por Benáldez parecem coisas fantásticas de medos sutis, sugestivos sem serem opressivos. Bom, mas a percepção sobre medos é algo relativo.
Nem sempre os medos de alguém fazem muito sentido ou mesmo possuem intensidade que nos sufoquem.
Os signos dos imaginários acorrentam de maneira pessoal a complexidade dos medos. Por mais que relatemos, só nós o sentiremos em sua profundidade.
Miedos, de Cannon Bernáldez, traça a linha tênue do sonho e do exercício de fechar os olhos. As imagens fotográficas são concebidas pelas hipóteses da memória, do repertório cultural que cercam nossas idiossincrasias. Pela fotografia, continuamos concebendo coisas e símbolos, assim como na vida. Por esta perspectiva, o vestido e os sapatos fixaram-se em minha retina. O porquê? Talvez, algum medo pela ausência.
Por Georgia Quintas
* Texto originalmente publicado em 2010 no Fórum Virtual, blog do Fórum Latino-americano de Fotografia de São Paulo.
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