No dia 9 de fevereiro, na Fauna Galeria, abre a exposição “Fábulas e Encontros” com curadoria de Georgia Quintas.
É a primeira mostra coletiva da Fauna, galeria especializada em fotografia, em São Paulo. Com poucos anos de funcionamento, a Fauna já expôs artistas como Tuca Vieira, Eduardo Muylaert, Mariano Klautau, Jair Lanes, Felipe Russo e Carlos Dadoorian.
Sobre “Fábulas e Encontros”, Georgia apresentará sete artistas com trajetórias bem distintas: Ana Beatriz Elorza, Bruno Vilela, Claudia Jaguaribe, Flávia Sammarone, Ilana Lichtenstein, Luana Navarro e Sheila Oliveira.
“A partir de pesquisa sobre o imaginário na produção desses artistas, a exposição traz variações temáticas que incursionam pela encenação em autorretratos, pela projeção da memória, por narrativas sugestivas e pela fantasia de poéticas construídas. Sete olhares que encontram e percebem a potência que a imagem fotográfica possui de criar histórias e contextos que fabulam sobre a representação visual. O eixo central da proposta desta coletiva é vislumbrar nossa percepção diante do encanto e sentido que a fotografia e suas fantasias provocam em nós”, Georgia Quintas.
Abaixo, nas palavras de Georgia, um pouco do que cada um vai mostrar.
Foto: Ana Beatriz Elorza
ANA BEATRIZ ELORZA
Em Alegoria da ausência (2011) da jovem fotógrafa paulistana Ana Beatriz Elorza (1987) a performance ganha contornos sutis através de uma estética que segue uma estratégia sequencial, repetitiva e fragmentada em um grande mosaico de autorretratos. A protagonista em sua pose encara a câmera de modo melancólico, isolado e silencioso.
O que emana das lantejoulas (supostamente do brilho da felicidade) não ecoa no todo. É nesse campo movediço das sensações e da dinâmica de encaixar o indivíduo na alegria de um fenômeno social que se coloca o trabalho de Ana Beatriz. O ensaio irrompe a questão da desconstrução do imaginário em nuances veladas, escuras, como que guardasse um segredo tão íntimo.
Foto: Bruno Vilela
BRUNO VILELA
Ofélia (2010) é o trabalho apresentado pelo artista plástico e fotógrafo pernambucano Bruno Vilela (1977) nesta coletiva. A obra nos traz a referência da história desta personagem clássica da literatura. Recorrentemente em suas pesquisas no campo da fotografia, o trabalho de Bruno Vilela percorre mitos, fábulas e ícones do nosso imaginário (seja através de repertório literário, seja na religião).
Em Ofélia, o encanto emerge do ar diáfano, da beleza de uma cena delicada (talvez fatal). Mas é na dúvida (na suspensão do corpo feminino) que as considerações do olhar diante da incerteza flutuam. Bruno Vilela promove em suas obras a elaboração de mundos imaginários, nos quais a fantasia é uma grande alegoria e estratégia de questionamento da nossa percepção sobre as imagens que acumulamos por meio da cultura visual e que dão forma ao nosso repertório de significados.
Foto: Claudia Jaguaribe
CLAUDIA JAGUARIBE
Em Fábulas e Encontros, apresentamos o trabalho da fotógrafa carioca Claudia Jaguaribe (1955) pelo espectro da cor vermelha. Vemos nessa edição algo que enfatiza o olhar múltiplo e inquieto da artista. O enigma ficcional dos personagens em Aeroporto (2001), o espaço onírico das belas imagens de Istambul (2009) e a ilusão em camadas de Sala vermelha (2008) colocam nosso olhar diante de uma espécie de perspectiva guardada de Claudia Jaguaribe.
Após pesquisar o acervo da artista, a curadoria alinhou obras de distintas épocas que dialogam não apenas pela questão cromática, mas sobretudo pela multiplicidade temática e desdobramentos poéticos. As obras aqui apresentadas mostram uma outra faceta do trabalho desenvolvido atualmente pela fotógrafa sobre paisagem, natureza e cidade.
Claudia Jaguaribe representa uma geração que, na década de 1990, se envolveu com as novas tecnologias e o experimentalismo na linguagem fotográfica com vigor artístico. A artista é uma das expoentes na pesquisa contemporânea da linguagem fotográfica, pelos formatos e construção imagética através da pós-produção.
FLAVIA SAMMARONE
A série Heranças (2008), da artista plástica e fotógrafa paulistana Flávia Sammarone (1975), é um convite ao imaginário que se constrói a partir da memória e de tempos íntimos. Heranças reverbera em sua poética o resgate de lembranças biográficas familiares da artista.
Sammarone exercita a relação da projeção de imagens em ambientes vazios e silenciosos com os universos do sonho e do afeto. Esse trabalho propõe de forma contundente a reflexão sobre a temporalidade e a metalinguagem numa perspectiva de documento e ficção.
Foto: Ilana Lichtenstein
ILANA LICHTENSTEIN
Uma e Outra Erupção (2009-2011), da fotógrafa paulistana Ilana Lichtenstein (1986), reflete o que poderia ser um sonho, um instantâneo ou simplesmente o recurso de entrever a lembrança. Num sopro suave, Ilana tece sua trama delicada em mini narrativas que sugerem modulações de acontecimentos em tempos diversos e não-lineares.
Nesse trabalho sobressai o gesto da fotógrafa como intuição diante da singeleza de momentos e paisagens. Mas também prevalece o encanto pelo deciframento de histórias que acumulam emoções, estado de passagens e lugares imaginários.
Foto: Luana Navarro
LUANA NAVARRO
A jovem fotógrafa curitibana Luana Navarro (1985), expõe nesta coletiva o trabalho Do que sou e não posso dizer que sou (2010). As imagens de Luana apresentam o corpo como território de investigação simbólica e reflexiva. Apesar de serem autorretratos, a identidade é obscura, ampliando a percepção sobre a temática que problematiza sentimentos profundos.
Nesse trabalho, Luana Navarro descortina o corpo do sentido estético e aparente, colocá-lo pelo avesso para mostrar mais além. Marcas e suturas ressaltam a força dramática subjetiva deste ensaio, bem como a característica desta artista em fazer da imagem fotográfica uma experiência artesanal e matérica.
Foto: Sheila Oliveira
SHEILA OLIVEIRA
Flutuações (2011) e Dores da Alma (2010-2011) são os dois trabalhos apresentados a partir de pesquisa sobre a produção da fotógrafa paulistana Sheila Oliveira (1968). A linguagem madura desta fotógrafa é estabelecida harmonicamente por meio de estética equilibrada e delicada plasticidade.
Sheila postula a imagem fotográfica como fluxo de apreensões de narrativas que submergem de formulações a partir da pose e da encenação. Nesses dois trabalhos, o efeito visual é consequência de discursos imaginários na mesma proporção que os elementos parecem devolver a sensação de imagens sonhadas e agora enfim fotografadas.
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