Vamos falar de fotografia? No próximo dia 24, o Olhavê completa 6 anos. Por aqui, vou celebrar fazendo a única coisa que sei fazer e gosto: Fotografia. Esta fase que se inicia no blog terá esta pegada da fotografia por quem sabe fazê-la com gosto, afeto, qualidade, honestidade, coerência, relevância.
Bem, a primeira entrevista é com um cara que é muito fera. Quando comecei fotografando, nos começo dos anos 1990, ficava doido com as imagens de Luiz Braga. Como ele fazia aquilo? Que cores! Que luz! Resolvi comprar um bom tripé, lentes claras e gastei muitos rolos de Provia e Velvia tentando ser Luiz Braga.
Alexandre Belém.
* Até 29 de setembro, em Belém, a exposição “Entreato da Luz” de Luiz fica na Casa das Onze Janelas.
Foto: Elaine Bayma
Há limites para a fotografia?
Eu perguntaria, qual o limite da luz? A fotografia está em constante expansão seja na técnica seja na linguagem, para não falar também na forma de percepção do público. Diante disso eu arriscaria dizer que os limites da fotografia são hoje os da mente do homem que a produz.
Aproveitando a oportunidade gostaria de falar no cerceamento desses limites pela violência que impede um fotógrafo como eu de caminhar livremente em minha cidade. Mas, mesmo nesse caso a luz procura brechas e quando as encontra lá está ela renovada, a fotografia insiste e deixa seu rastro.
A sua fotografia é uma fabulação da realidade ou a insistência do vigor em procurar respostas?
Depois de muito trilhar na lâmina da luz e rever meu caminhos, posso dizer que a minha fotografia é impregnada de minhas vivências, afetos, memórias, referências. Uma busca de mim mesmo através da possibilidade técnica de reconstruir a realidade, muitas vezes a subvertendo, como no caso das luzes de temperaturas diversas dos anos 1980/90 e dos Nightvisions recente.
Através dela consegui me afirmar como ser humano, sair da timidez da infância. Primeiro um escudo, depois uma máscara e por fim um espelho.
Chegamos a algum lugar através das imagens fotográficas?
No meu caso, a muitos lugares plenos de afeto. Mas, essa busca que descobri ser interior é que é o grande motor. A eterna fome de descobrir no mundo seus rastros.
Por que precisamos da fotografia? Ou melhor, precisamos da fotografia nas nossas vidas?
Cara, algumas vezes eu confesso que pensei: caramba, um médico na África ou mesmo numa urgência no Brasil procura salvar vidas, tarefa nobre. E eu tirando fotos por aí. Superada a sensação de superficialidade passageira e muito por conta da reação do público nas minhas exposições percebi que precisamos sim da fotografia.
Ela é ponte entre olhares. Imagem é a grande ferramenta de comunicação entre os homens.
Como (e quando) a fotografia entrou na sua vida?
A fotografia sempre esteve me cercando. Meu pais tinham o hábito de ter um “fotógrafo da família”, Seu Oscar, que acompanhou boa parte de nossa vida, foi a ele a quem recorri quando, aos 11 anos, ganhei minha primeira câmera de presente de aniversário de um amigo de meu pai.
Montei um quarto escuro no porão de nossa casa e lá revelei minhas primeiras fotos. Provas de contato feitas com a luz do sol. Cenas de minhas irmãs brincando no quintal, meu pai lendo e por aí. Era uma maravilhosa descoberta, brincar com a luz. Até fiz o curso por correspondência do Instituto Universal Brasileiro, que era anunciado nos gibis da Ebal (Fantasma, Superhomem, Tio Patinhas, etc) e cheguei a fazer fotos para os relatórios de meu pai, que era diretor do hospital psiquiátrico de Belém.
Essa fase lúdica foi sucedida pelas bandas de rock e o Super-8 com meus amigos de adolescência. No entanto, aos 17 anos, na época do vestibular para arquitetura, a fotografia retornou de vez. Montei meu primeiro estúdio, fazia retratos, publicidade e outros trabalhos que sustentaram tanto o homem Luiz Braga como o artista, que conseguia produzir seu ensaios e fazer suas exposições desde 1979.
Sempre fui muito bem guiado pela minha intuição. Ela primeiro me dizia para seguir fotografando quando muita gente via nisso um hobby, afinal, naquela época (1975) filho de médico não seguia carreira de fotógrafo.
Depois foi quando decidi mergulhar no universo da Amazônia, quando ela ainda não era ícone da ecologia. Por fim, quando decidi, em 1999, investir tudo na carreira de artista deixando o trabalho comercial (e seu conforto $$$) pra trás e isso coincidiu com o crescimento da fotografia no cenário da arte contemporânea.
Tudo que tenho devo a fotografia. Eu diria que ela me escolheu e me trouxe até aqui. Viver de fotografia como arte talvez fosse um sonho que lutei (e outros como o pioneiro Mario Cravo Neto) e hoje tenho orgulho de ter conseguido.
Descansando sobre sacos, 1985
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