© Museo Thyssen-Bornemisza
Atualmente, refletir sobre os rumos dos museus, a espetacularização das curadorias, as políticas culturais que os envolvem é verdadeiramente um campo dialético, de opiniões divergentes e complexas. Os museólogos estão atentos a estas questões e lançam luz, categoricamente, sobre tal problemática. Assim, como antropóloga e historiadora da arte, considero importante lembrarmos do arcabouço artístico e da relevância dos espaços museológicos como gerador de educação.
Todo ele, independente de seu acervo ou do local que o abriga, mantém a memória cultural e etnográfica, bem como ajuda a compor, em muitos casos, a trajetória artística de um país. Sobretudo, as coleções particulares se colocam dentro desta perspectiva como fomentadores de legados culturais.
Em alguns casos, a dedicação minuciosa e dirigida em arregimentar objetos de arte, quadros, ou mesmo, do colecionismo restrito a temáticas, sofre a transição da paixão pessoal para a contemplação de uma sociedade. Do privado para o público, seja por doação ou venda (não discuto aqui esta questão), toda uma comunidade ou país passa a ter um patrimônio imensurável.
Na Espanha, especialmente em Madri, o Museu Thyssen reflete o que foi a dedicação de um homem (muito bem orientado) em adquirir obras pontuais da História da Arte. Dos principais mestres do século XIII aos renomados artistas da arte dos séculos XIX e XX, este acervo do barão Thyssen-Bornemisza, vendido ao governo espanhol e convertido em museu há 10 anos, constitui um dos pilares mais significativos deste país para o panorama da arte mundial. Ou seja, juntamente com o Museu do Prado e o Reina Sofía, a impressionante coleção do Museu Thyssen consolidou esse eixo como uma das melhores ofertas museológicas do mundo. E assim, uma coleção particular complementa a radiografia da História da Arte internacional.
No entanto, cabe ressaltar também o teor subliminar que perpassa a vida de um museu. É sempre bom retomá-la para uma reflexão, mesmo que breve como esta. Os significados inerentes à instituição do museu se entrelaçam, estão imbricados, formam um amálgama para a formação cultural e, sobretudo, de cidadãos. É preciso lembrar, que um dos fatores de dinâmica desses espaços é fundamentalmente de cunho educacional. O museu impulsiona os sentidos, sensibiliza e informa, seja através de seu acervo ou de suas exposições temporárias.
Cada vez mais, o universo subjacente nas obras expostas é explorado, para assim refletir elementos de diacronia e sincronia. Os símbolos e referentes revelam aspectos históricos, de visão de mundo de uma época, assim como a diversidade da maneira de representar. Nesse sentido, a simbiose entre representação e interpretação existente em obras artísticas gera inquietude e um estado de arrebatamento. De forma que as informações adquiridas afagam o espírito, mas principalmente estimulam a visão crítica sobre o mundo.
Ao manter, preservar e promover a arte, os museólogos buscam debater novas perspectivas para que esses bens culturais tenham visibilidade e atinjam, através de didáticas eficazes, o seu objetivo maior: o público.
*Publicado no Jornal do Commercio em 08 de fevereiro de 2003.