Foto: Ronaldo Camelo
Claudio Versiani, do PicturaPixel, fez um comentário na entrevista de Anderson Schneider que considero interessante e publico aqui como um post. Pedi para Versiani uma sugestão de foto para ilustrar o comentário dele, a resposta foi: “coloca o Camelo e a fotografia brasileira estará bem representada…”
O comentário de Versiani:
Mais uma vez eu discordo do Anderson. O trabalho dele fala por si só.
[fala de Anderson] “ainda somos vistos lá fora como um país de produção fotográfica medíocre e nada mais. Claro que, em parte, isso tem a ver com a arrogância primeiro-mundista, mas acredito que não seja só isso. Nossa fotografia é, generalizando, claro, provinciana e perdida em algum lugar do começo da década de 80. E a pior parte é que nós não estamos nem aí pra isso, pelo contrário, achamos o máximo, temos certeza de que esse é o nosso jeito de fazer fotografia…”
E aqui eu discordo profundamente. Poderia escrever um ensaio sobre a fotografia brasileira. Resumindo, não dá para comparar com os norte-americanos e nem com os europeus. Nem fotográficamente, nem cultural e muito menos econômicamente.
Morei 5 anos em NY e vi muita coisa ruim por lá. É o reverso da medalha, eles se obrigam a ser criativos e se perdem. Vale qualquer coisa, o criativo pelo criativo e a bobagem pela bobagem. E o que é pior, há gente que goste e gosta muto. Estou generalizando, como Anderson fez.
Aqui na Europa não sinto isso, pelo menos por enquanto. A cultura fala mais alto e a produção fotográfica não tem esse apelo da “criatividade”. Os europeus valorizam mais a história, o documento por assim dizer.
Finalizando, a fotografia brasileira não é melhor e nem pior do que a americana ou européia. Só é diferente. Agora… quem está disposto aí no Brasil a bancar 100 mil dólares anuais para um fotógrafo ficar um ano fotografando ?
http://www.picturapixel.com/blog/?p=9193
E não é só pq é o Nachtwey. Ele simplesmente inscreveu o melhor projeto.
Anderson ainda é um garoto e tem muito chão pela frente.
Eu sou fã dele.
Acabo de chegar de uma semana de viagem e perceber que algumas idéias que coloquei geraram desdobramentos. Que bom. Gostaria apenas de detalhar dois pontos para que nenhum mal-entendido seja perpetuado.
1. Onde escrevo fotografia, por favor, leia-se fotojornalismo. Apesar do contexto da entrevista deixar, na minha opinião, isso claro, em momento algum de minha exposição deixei essa apropriação do todo pela parte textualmente registrada. Falha minha. Faço-o agora.
2. Em momento algum disse que a fotografia norte-americana ou européia é brilhante. Apenas disse, e repito, que nossa fotografia é provinciana e perdida no tempo. Provinciana porque a produção nacional e sua veiculação são, via de regra, desconectadas do que se faz no resto do mundo. O tratamento que a fotografia tem dentro das redações brasileiras é, de maneira generalizada, claro, risível. E torna-se ultrajante quando comparado ao tratamento que a fotografia tem nos jornais e revistas europeus e norte-americanos. Claro que existem algumas boas exceções, mas a média nacional é muito ruim. Já quando digo que a fotografia brasileira é perdida no tempo, refiro-me ao fato da fórmula ainda em voga nas redações nacionais ser a mesma há mais de sei-lá-quantos anos, aquela que invariavelmente submete o conteúdo fotográfico ao conteúdo do texto, deixando assim pouco, pouquíssimo espaço para a fotografia se reinventar. A fotografia na grande maioria dos meios de comunicação de nosso país não é mais que um tapa-buraco, algo que apenas existe para tornar a feia página de jornal um pouco mais bonitinha. Como já bem disse a moçada da Cia de Foto, nesse país fotógrafo não é mesmo pago para pensar.
Então, quando somo todos os desmandos ao quais a fotografia brasileira se submete pacatamente todos os dias, do crédito ao salário, do respeito por seu conteúdo ao espaço para o desenvolvimento de sua linguagem, infelizmente, só me resta dizer que a fotografia brasileira não vale mesmo muita coisa.