QUEM | Juan Esteves.
ONDE | São Paulo.
PORQUE | Atualmente, Juan Esteves é um dos grandes da crítica fotográfica brasileira (diga-se de passagem: escassa). Juntamente com outros nomes, mantém a fotografia viva para sempre. Pois, são esses registros escritos que marcarão a trajetória de tempos passados para gerações futuras. Como vocês irão notar, explorei bem o convidado e a entrevista é bem maior do que as de costume. Perguntei de tudo… É aquele tipo de entrevista que se imprime e guarda. Guarda-se da mesma forma que guarda-se uma fotografia. Com o cuidado para que no futuro ela traga as emoções, resgate e ajude a entender o passado. Além de tudo, Juan ainda é um dos nossos maiores fotógrafos e nos brinda com uma série de retratos de outros grandes mestres.
Foto: Erico Hiller
Currículo fornecido pelo fotógrafo:
Juan Esteves é santista e tem 51 anos. Desde os anos 80 fotografa profissionalmente trabalhando para agências internacionais e jornais como a Folha de S.Paulo, onde além de fotógrafo, foi editor de Fotografia. Tem imagens publicadas em muitas das publicações brasileiras e do exterior.
Tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna de São Paulo-MAM; Museu de Arte de São Paulo – MASP; Musée de L’Elysée, Lausanne, Suíça; Instituto Moreira Salles-IMS; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Brasileira-MAB-FAAP; Enciclopédia de Artes Visuais Itaú Cultural e Museu de Fotografia da Cidade de Curitiba; entre outros privados e públicos.
Mostrou seu trabalho em 24 exposições individuais e 84 mostras coletivas, entre lugares públicos e privados, no Museu de Arte de São Paulo – MASP; Museu de Arte Moderna de São Paulo- MAM; Pinacoteca do Estado de São Paulo; No exterior, PS1 The Institute For Art and Urban Resources, New York, Estados Unidos; Stedelijik Museum Het Domein, Sittard, Holanda; Aschembach Gallery , Amsterdam, Holanda ; Stadtiches Museum in der alten Post, Mulheim an der Ruhr, Alemanha ; International Press Book Fair , Genéve, Suiça ; Time & Style Gallery,Tokio , Japão; Point Efémére, Paris, França.
Publicou os livros “55 Portraits”, 2000, “São Paulo en mouvement “ em co-autoria com Anne Louyot (textos) , 2005 e “Presença”, 2006, além de participar em mais de 100 publicações no Brasil e no exterior. Publica este ano o livro “Vida de Fotógrafo” com perfis de 20 grandes fotógrafos internacionais. É articulista da revista Fotografe Melhor e colunista do Fotosite (agora “Arquivo Fotosite” na Clix), escreve e fotografa para revistas Época, MIT (Mitsubishi) e Viagem Mais, entre outras.
Walter Firmo | 2007
Thomaz Farkas | 2005
OLHA, VÊ Como a fotografia entrou na sua vida?
JUAN ESTEVES Ainda adolescente comecei a desenhar, pintar, convivência com minha avó, artista plástica. Experimentei um monte de técnicas, do nanquim ao óleo, mas sempre buscando a figura humana. Participei de salões jovens, mas num momento percebi que era incapaz de produzir o que eu queria. Notei que só conseguiria isso com a fotografia. Embora hoje esteja fazendo o caminho reverso, voltando a imagem de arte, manipulando imagens…
Primeiro comprei um livro, Fotografia Básica, do Michael Langford! Depois a câmera e sai pelas ruas, ou melhor pelas praias…pelo porto de Santos, seus arredores…Já conhecia as imagens do Araquém… O segundo livro foi “Vu par Moscou” do Cartier-Bresson, edição de 1954 da Delpire, para o qual olhei anos na estante de um sebo sem saber que um dia me seria útil… Quando conheci o Robert Delpire e mostrei a ele a edição ele não acreditou! Ele tinha só 23 anos quando editou o livro, e pior…era o terceiro livro do Bresson, produzido por ele!
Rebolei muito para conciliar meu trabalho normal, os estudos e o desejo de ser fotógrafo que ia crescendo. Naquela época, início dos anos 80, as opções eram imprensa ou publicidade. Optei por ser fotojornalista! Mas foi um começo difícil. Para trabalhar num jornal você tinha que ter um trabalho publicado…e para isso, você precisava trabalhar em algum jornal…
Comecei cobrindo férias nas sucursais de A Tribuna, de Santos, enquanto formava com amigos uma agência de fotojornalismo, a Contato . A F4, da Nair e do Juca eram a inspiração! Depois de meses pedindo licença no trabalho, surgiu uma vaga na redação de A Tribuna e fui contratado. Exatamente um ano depois, a Folha de S.Paulo me chamou para trabalhar lá, onde fiquei até 1994.
OLHA, VÊ Os retratos compreendem uma parte muito significativa em sua carreira. O retrato ainda lhe fascina? Quais são os grandes retratistas que lhe influenciaram?
JUAN ESTEVES Bom, é uma longa resposta… mas vamos lá! Sempre digo que o retrato é uma troca e não um trabalho. Falo daquele que queremos fazer, não um assignment. Embora me considero um priviligiado por misturar o prazer com trabalho. A não ser aqueles corporativos, a maioria dos meus retratos são de pessoas que admiro muito. Fotógrafos, escritores, músicos, cineastas, artistas plásticos, arquitetos, gente ligada a cultura.
É realmente fascinante poder passar umas horas com escritores como Eric Hobsbawm ou Lygia Fagundes Telles, cineastas como Peter Greenaway ou Amodóvar, ou fotógrafos como Sarah Moon ou René Burri, por exemplo. Quando retratei Maureen Bisilliat para revista MIT (da Mitsubishi) e escrevi seu perfil para Fotografe Melhor, foi maravilhoso. Ouvir alguém com a experiência de fotografia (e de vida) como ela tem é algo extraordinário. Um privilégio único de poder trocar idéias. Maureen além de fotógrafa genial é uma pensadora prá lá de eclética, com uma cultura gigantesca.
Minha inclinação pelo retrato começou cedo, em casa mesmo. Meus bisavós e avós vieram de Goián, uma pequena vila em Pontevedra, na Galícia. Com eles veio um pintor ainda jovem, Antonio Fernandéz Goméz, que morou anos com meus avôs. Ao retornar a Espanha nos anos 60 ele deixou uma dezena de belos retratos espalhados pela casa. Cada cômodo havia pelo menos um retrato…
Os mestres espanhóis, Jusepe Ribera e Diego Velázquez, entre outros, que estavam nos livros do meu pai e meu avô. Ambos eram arquitetos e os livros de arte era muitos em casa. Daí também vem meu gosto por livros…
Levei isso para minha fotografia. O chiaroscuro, frequente no meu trabalho, certamente vem de Velázquez, aquela luz lateral, o drama… É uma influência quase inconsciente! Incorporada, vejo sempre o mundo desse jeito… Ou melhor sempre vi o mundo desse jeito….
Irving Penn e Richard Avedon são de cabeceira. Mas antes deles, August Sander e Julia Cameron! Ela, como Maureen, é fabulosa. Eles são a base de tudo que se vê em retratos hoje.
Otto Stupakoff [Otto faleceu no último dia 22, leia aqui texto de Juan no PicturaPixel] e Carlos Freire me acompanham desde que abri a primeira revista de fotografia. Juntamente com Carlos Moreira e Alécio de Andrade, são os pilares da minha fotografia mais ampla. São meus guias em tudo.
Penn já está com noventa e tantos anos, embora ainda produza, e Avedon morreu em 2004 , mas deixaram alguns herdeiros como os escoceses Nigel Parry e Albert Watson. Admiro também o holandês Anton Corbjn e suas imagens em lithprint, são fabulosas.
Alécio também morreu em 2003, mas o IMS publicou um livro sobre seu trabalho que é bárbaro. De vez em quando vejo alguns retratos do Carlos Freire na Lire Magazine, revista de literatura francesa. O Otto tornou-se um amigo, e as vezes tinha o privilégio de acompanhar a edição de suas imagens. Outro dia fui ao apartamento dele e olhei caixas e caixas de prints vintage. Nossa! Foi uma experiência incrível. Ele também está editando uma série inédita de retratos de rua, feitos no Camboja que são espetaculares! As imagens estão com a Cosac Naify, que por sinal está atrasada com a publicação do livro. Creio que é por falta de patrocínio… Quem sabe agora publicam…
OLHA, VÊ O que lhe chama atenção na fotografia atualmente?
JUAN ESTEVES Algumas coisas me chamam atenção: O surgimento de um batalhão de produtores de imagem. Fato decorrente da facilidade técnica, incorporada notadamente na última década. Destes, passam pela peneira pouquíssimos, aqueles que são realmente fotógrafos, se pensarmos naqueles que vão sobreviver ou se destacar.
Alguns realmente nos dão esperança, como o Pio Figueiroa, João Kehl e Rafael Jacinto, da Cia de Foto, que adotam o coletivo. Os mineiros João Castilho, Pedro David e Pedro Motta, também. No sul o Tadeu Vilani e o Eduardo Aigner, e aqui em São Paulo, temos jovens promissores como o Érico Hiller, Danilo Verpa e o Felipe Aráujo, filho do Jorge Araújo. O Maurício Lima, da France Press é muito bom! O Anderson Schneider e o Ricardo Teles também! É claro, poderia citar mais alguns que admiro o trabalho… cometo a injustiça de não mencionar todos agora…
Também me chama atenção o crescente número de publicações da última década . E assim como os fotógrafos, pouquíssimas passam por um filtro mais apurado. Mas elas estão pululando e sob a benesse da Lei Rouanet, o que é muito pior. É triste! Olho uns 10 livros por mês para minha coluna crítica. O aproveitamento é baixo, melhor, baixíssimo. Dá pena de ver tanta árvore derrubada para fazer papel! Uma boa parte delas não deveria passar nem mesmo pelo controle de qualidade da gráfica, e absurdamente estão nas estantes das livrarias, as vezes com obras de fotógrafos conhecidos…
Também estão ficando ruins as exposições em lugares públicos e institucionais que outrora eram excelência. A impressão que dá, é que se você tem dinheiro para bancar grandes prints, bons catálogos, você expõe onde quiser, e o que quiser! Parece que não há outro critério… Os novos “curadores”, ou melhor aqueles que se intitulam como tal, são uma piada! Sem nenhum estofo. Enquanto isso, fotógrafos excepcionais, com obras consistentes, são subdimensionados…
OLHA, VÊ A atual Fotografia Brasileira está se “deslocando” daquela fotografia dos anos 1970 e 1980, que se baseava no documental e fotojornalismo?
JUAN ESTEVES Não sei se seria exatamente isso… Há pouco tempo surgiram documentaristas e fotojornalistas consistentes e promissores. Citei três deles na pergunta anterior, o Érico Hiller e o Maurício Lima. Também, apesar de um pé na arte, a obra do trio mineiro é essencialmente documental. O trabalho documental do Marcos Piffer com o litoral paulista e o café são muito importantes. Assim como Cristiano Mascaro continua a ser o grande documentarista do nosso país. Mas creio que não sejam herdeiros diretos da produção daquelas décadas (embora Mascaro seja do meio daquela geração).
Na verdade acho que nunca mais teremos um documental ou fotojornalismo como aquele produzido por Walter Firmo, Cláudia Andujar, George Love, David Zingg, Luigi Mamprin, Maureen…. Não por falta de qualidade, mas por falta de mercado, de dinheiro. Naquela época uma editora como a Abril podia bancar uma viagem de meses para o fotógrafo. Hoje não existe mais isso. Se o fotógrafo não bancar sua própria produção ela não existirá.
Também acho que o termo “documental” é normalmente aplicado de maneira errônea. Por exemplo, acho o trabalho de retratos do Eduardo Simões ou do Marcio Scavone documentais. O meu trabalho também, principalmente meu último livro, Presença, que retrata artistas plásticos brasileiros durante mais de duas décadas, é um trabalho documental na essência. Mas acabamos rotulados como retratistas…Sempre que se fala em documental surgem cidades, trabalhos, índios, etc…Retratar a nossa cultura e seus personagens, para mim é uma forma de documentário. Há outros exemplos similares…
Esse deslocamento, que acredito seja parcial da fotografia, tanto documental quanto fotojornalística, vem existindo há mais de uma década, creio , no meio dos 80…quando começam assumir a “imagem de arte”, que também erroneamente é rotulada de contemporânea. São trabalhos que surgem de outras fontes ( é claro que alguns literalmente emulam estas fontes) vem de fotógrafos com formação diferente, que diferem radicalmente da proposta daquelas décadas, um pouco aquilo que o Rubens Fernandes Junior chama de fotografia expandida. Alguns são realmente talentosos e consistentes, embora continuemos a assistir, numa boa parte deles, uma clonagem de produções européias e americanas sem o menor pudor.
Outra coisa que colaborou com este deslocamento, e seu estabelecimento definitivo nos dias de hoje, foi a adoção da fotografia pelas galerias de arte e pelos leilões. Fato que adicionou um ingrediente inédito e fundamental no resultado hoje: O marketing dos dealers e a auto-promoção… não basta ter um trabalho de qualidade, se você não promovê-lo…
OLHA, VÊ Você acredita numa chamada “descentralização” ou a fotografia brasileira só “brilha” em São Paulo? Ou, o mais correto seria dizer que São Paulo ainda é “legitimadora” da fotografia?
JUAN ESTEVES Assistimos na última década uma expansão real do raio a partir de São Paulo e Rio. Temos produções de altíssima qualidade oriundas do Pará, do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Pernambuco, de Minas Gerais, do Ceará, da Bahia, e de Brasília. O surgimento de grandes espaços expositivos como o MON em Curitiba, o Dragão do Mar em Fortaleza, o Santander em Porto Alegre, entre outros, colaborou para isso. São espaços que rivalizam com um MASP ou o MAM do Rio de Janeiro.
Também, os produtores não precisam mais deixar seu lugar de origem para se expandirem nacionalmente e internacionalmente. Você vê um Luiz Braga, que trabalha essencialmente em Belém, expondo na Bienal de Veneza! O Estáquio Neves vive e trabalha no interior de Minas e projeta seu trabalho pelo Brasil inteiro. Mário Cravo Neto e Adenor Gondim, raramente deixam Salvador, mas suas obras circulam pelo mundo. Agora mesmo João Castilho está expondo na Bolívia…
Quem ainda não enxergou essa descentralização é o tal do “curador” de algumas galerias e alguns museus….Aqueles que assinam seu nome do m esmo tamanho que o artista… Ainda continuam regionalistas e com a visão um tanto estreita, com raras exceções. Na verdade são muito corporativistas e só promovem aqueles de seu círculo mais próximo, infelizmente, quando deveriam ter um olhar mais amplo e menos preconceituoso.
Também é claro que um espaço como o MAM ou o Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, ou o MASP ou MAM de São Paulo, validam qualquer fotógrafo. Embora enxergo idiossincrasias em todos eles. Por exemplo, o maior acervo de imagem contemporânea não está em São Paulo e sim em Curitiba, no Museu de Fotografia. As coleções tanto do MASP quanto do MAM ainda são acanhadíssimas perto das internacionais… Contradições que passamos a ignorar com a convivência…
Mas, isso tudo faz parte da falta de uma política cultural mais ampla. Da falência do Estado em promover uma cultura pública e de alcance efetivo. Esta tarefa ficou na mão da iniciativa privada, e esta que investe, está entre Rio e São Paulo. O Fórum Latino Americano de Fotografia em São Paulo foi um exemplo. O Paraty em Foco, no Rio, é outro.
Pierre Fatumbi Verger | 1992
Nair Benedicto | 2008
OLHA, VÊ Denominações – como fotodocumentarista, fotógrafo contemporâneo, etc – ainda valem para a fotografia? Você não acha que a própria contemporaneidade já resolveu questões como a tentativa de classificar as imagens fotográficas?
JUAN ESTEVES A rotulagem é um dos defeitos da intelligentsia no Brasil. E grave, imagino. Como comentei anteriormente, existem aqueles saudosos, que insistem em “classificar” a produção de um artista. Agora mesmo, também nos pegamos neste vício… Artista? Fotógrafo? Estamos rotulando sem parar! Para ser prático, vamos aos exemplos na sintaxe : Cristiano Mascaro, tem um trabalho essencialmente documental. É um documentarista! Mas, suas imagens estão nas paredes de galerias de arte e museus! Logo, ele é um artista. Também é publicado em diversas revistas como editoral. Logo, é um fotojornalista! Como produz sua obra desde a década de 70 sem parar até hoje, 2009, obviamente é contemporâneo! De maneira cartesiana, nossa tradição, simplesmente aplicamos todas estas definições! Ou melhor, seria mesmo necessário aplicá-las?
Para certos galeristas que são avessos ao trabalho fotográfico tradicional, clássico, (aquele com imagens em preto e branco) Mascaro é “classificado” como não contemporâneo. Afinal suas imagens não são grandes e desfocadas! Não contém digressões sobre sua opção sexual, não fazem referência a outras obras de arte, não são alusivas a conceitos pseudos profundos , etc… É um anacronismo ilimitado dessas pessoas! Uso o exemplo do Mascaro porque já conversamos muito a respeito de tudo isso..
Ora, sou um retratista, posso me definir como documentarista? Talvez. Já o fiz acima. Sou um artista? Já fiz inúmeras mostras em galerias de arte e em museus. Mas, para alguns galeristas e curadores, talvez eu não seja um artista, seja apenas um fotógrafo tradicional! Por exemplo, se vier uma exposição do Chuck Close cheia de retratos, ele é um artista. Nas chamadas seleções de “arte contemporânea” que os museus fazem, raramente minhas obras entram. E olha que tenho dezenas de retratos em grandes museus…porque talvez o retrato, o preto e branco, uma mídia tão tradicional, não seja considerada contemporânea…
Logicamente há diferenças entre os termos clássico, tradicional e contemporâneo. Contudo, não são excludentes…Ora, nunca vi um fotógrafo que produza tanto e com tamanha qualidade como o Mascaro, e vai um sujeito dizer que, porque não gosta de preto e branco, ele não seja contemporâneo? Na verdade estamos falando de pessoas cuja cultura fotográfica é um verdadeiro simulacro. Não são capazes de notar uma obra original de um plágio, um mestre de um diluidor.
OLHA, VÊ Acredito que hoje (no Brasil) cada vez mais, está existindo uma “estrada de mão dupla” na relação da fotografia com o mercado de arte. Os fotógrafos em acervos, galerias, salões e leilões. E os artistas plásticos usando a fotografia como suporte ou mero registro. Como você observa esta movimentação toda? (acho que o Thomas Hoepker falou um pouco sobre isso na revista Fotografe Melhor. Sobre a venda das suas fotos ser mais rentável/viável no mercado de arte do que em banco de imagens tradicionais).
JUAN ESTEVES Voltamos um pouco a questão anterior dos rótulos… Hoje a fotografia está definitivamente integrada no mainstream da arte internacional. É claro que o Brasil, até por tradição, seguiu a maré. Contudo isso gerou essa duplicidade nos conceitos. Fulano é um fotógrafo ou é um artista? Se ele está exposto no museu…logo é um artista… mas suas imagens também frequentam as revistas, abordam o social….falamos disso antes…
Isso tudo foi absorvido pelo mercado comercial e pelas instituições culturais. Houve um significativo aumento da fotografia nos acervos. Ainda é muito pouco comparado ao primeiro mundo, mas, para um país sem política cultural pública isso é um avanço. Talvez um dia possamos alcançar um nível como na França, por exemplo, quando na década de 80 Robert Delpire criou, com recursos do estado, a coleção Photo Poche, que por sinal, recentemente se tornou privada… Mas, por duas décadas, foi bancada pelo governo francês. Você já ouviu falar em algum projeto cultural do estado brasileiro que tenha durado mais do que 5 anos? Não falo de excrescências como a Lei Rouanet. Falo de coisas que chegam ao grande público a custos acessíveis.
Os grande museus continuam a viver de doações dos fotógrafos ou quando não, pagam “simbolicamente” por suas aquisições. Portanto, resta aos fotógrafos, como Hoepker mencionou, vender suas imagens aos colecionadores particulares, ou a simples compradores que só querem pendurar uma foto na parede. A venda de banco de imagens, o trabalho editorial, está em franco declínio. Contudo, apesar de resultados expressivos de galerias e de leilões, os números são inferiores ao do exterior, e os grandes highlights por aqui, são aqueles que tem obra reconhecida lá fora, como o Vik Muniz, por exemplo, que na verdade é uma indefinição. Ora é artista, ora é fotógrafo.
Esta indefinição na verdade é conveniente, senão ele não venderia tão caro. O “artista” que usa a fotografia como suporte da obra não se define como fotógrafo. Aquele que se apropria da fotografia em sua obra também não se intitula um fotógrafo! Mas, para um conselho de pseudo luminares ele pode ser sim um fotógrafo e as vezes até premia-se esta apropriação ! Você não chama o Chuck Close, Thomas Ruff de fotógrafo, chama? Ou um Andreas Gursky? Este até chamávamos quando esteve no Brasil nos anos 90, hoje ele como os outros, é um “artista”. Não estou falando se as obras deles são boas ou não. Falo de como alguns curadores ruins as enxergam! Ou como eles as definem! É apenas uma questão de conveniência…
OLHA, VÊ Os blogs sobre fotografia tem proliferado e, hoje, temos uma variedade bem interessante de visões e conceitos. Por que isso aconteceu de uma forma tão contundente?
JUAN ESTEVES Penso em vários motivos. A proliferação do espaço virtual e um hardware mais acessível é uma delas. Há uns 15 anos tinha fotógrafo tentando entender um mouse! A banda larga facilitou o trânsito, e o reconhecimento definitivo da Internet como mídia séria sacramentou tudo.
Embora, não podemos esquecer que não existe ainda uma inclusão digital satisfatória no Brasil e não há dúvida que é necessário separar o joio do trigo, como fazemos com tudo que é informação. Recebo diariamente sugestões para olhar sites e blogs de fotografia. A maioria deles não tem critério algum, ou são de péssima qualidade, seja em conteúdo imagético ou de informação. Até ai nada diferente das demais mídias… Me aponte alguém que hoje em dia consegue ler uma revista semanal inteira? Ou pela metade, algumas páginas…?
É preciso lembrar que o brasileiro, de um modo geral, não coloca a leitura em suas prioridades. Quanto a isso, basta notar as tiragens de livros no Brasil. Aliás, podemos estender isso a qualquer publicação. Paradoxalmente, fotógrafos raramente compram livros de fotografias, menos ainda aqueles que as comentam. Por vários motivos, a razão principal é porque ainda é muito caro e em face de uma prioridade qualquer, não compram mesmo. O trabalho dos outros nunca é melhor do que os deles… seria engraçado se não fosse triste! As bibliotecas especializadas também são pouquíssimas, como aqueles que as frequentam.
Quantas vezes falei para alunos que o que ele estava fazendo remetia a tal fotógrafo. Algum tempo depois perguntava: Viu o trabalho que mencionei? Ah…não deu tempo ainda professor…. É mais fácil ficar no bar em frente da faculdade bebendo, do que frequentar a biblioteca…Só fazem em tempo de prova…É claro, mais uma vez…existem exceções que valorizam o que gastam com as mensalidades.
Se você perguntar quantos compram revistas? Proporcionalmente ainda muito poucos! Revistas de ensaio não sobrevivem muito tempo por aqui, isso é histórico! Aquelas que mesclam técnica, ensaio e teoria, tem uma certa longevidade, como a Fotografe Melhor, por exemplo. Mesmo assim, a crítica frequente que escuto não se refere ao conteúdo e sim a inserção comercial. Como se fosse possível publicar algo, se assim não fosse! O sujeito critica, mas não faz idéia do conteúdo cultural que está inserido nela.
É aquela velha história de criticar, simplesmente porque seu trabalho não está lá… Quando está, esse tipo de fotógrafo compra a revista…mas só aquela onde ele aparece, e… continua a criticar levianamente! Deve ser um vício! Felizmente cativamos cada vez mais leitores, as assinaturas tem aumentado, e acreditamos que estes leitores serão permanentes…
Pelo seu imediatismo e facilidade não há dúvidas que os blogs tem papel fundamental na difusão cultural. Mas os bons são tão raros… Para se ter uma idéia, o site da revista americana The New Yorker no início indicava uns quatro ou cinco… Agora, indica uns 10! Se você olhar, a maioria indica uma dezena ou mais… ficamos muito lenitivos… A maior parte dos meus bookmarks é voltada para pesquisa,versões on-line de boas revistas e jornais, bibliotecas, galerias e museus que considero importantes.
Muitos blogueiros ainda não se deram conta que a ferramenta não é para contar ao leitor que você está resfriado, ou vai entrar de férias, ou vai viajar com a família… Quem entra num blog quer conteúdo, informação confiável, diversidade, comentários atuais. Não quer ler comentários de alguém carente que usa a net para provar a sua existência ao mundo… Mas, em relação a estes, se você olhar a quantidade de posts, o conteúdo, e quem os escreve, dá para explicar muita coisa…
Há alguns anos fizemos para o Fotosite uma pesquisa e descobrimos que 70% dos nossos leitores queriam maior variedade no conteúdo e que ele mudasse com rapidez. Hoje você entra na maioria dos blogs e o último post foi de um mês atrás…. Mas temos disponíveis excelentes blogs, com gente séria e boas informações, fáceis de navegar. E mais uma vez, olhe os posts! Também são de gente interessante! Mas comparativamente, aqueles de fotografia ainda perdem longe dos demais. Por exemplo, um comentário do Daniel Piza, do Estadão, tem em média 50 posts, o do Luiz Nassif, do Fernando Rodrigues, também…descontemos aqueles pitecos inúteis…mesmo assim a diferença é muito grande!
Maureen Bisilliat | 2008
German Lorca | 2006
OLHA, VÊ Como você avalia a proliferação de cursos universitários de fotografia (bacharelado, tecnólogo, pós graduação)? Teremos uma nova geração de profissionais?
JUAN ESTEVES Sim, teremos uma nova geração, assim como já temos a geração digital, a geração do celular e outras mais… Isso não significa uma geração de bons fotógrafos profissionais.
Se pegarmos o ensino universitário brasileiro, de um modo geral, veremos que as perspectivas são ainda ruins! Tanto o ensino público quando privado remunera mal seu quadro docente. O que dificulta a formação de um quadro de excelência, e por consequência no futuro, péssimos advogados, jornalistas, médicos, enfermeiros,engenheiros, etc..etc….
Com a fotografia isso não seria diferente. É muito difícil contratar um grande profissional, seja pelo salário, seja pelas qualificações de currículo exigidos pelo MEC.
Na maioria dos bacharelados, conta-se nos dedos, os professores com expertise. A burocracia exigida pelas normas do governo emperra as contratações.Também, muitos dos professores migraram para os cursos paralelos, que proliferaram aos montes nos últimos anos… Tem curso até para fotografar com celular, acredite!
Certas profissões, como a de escritor, jornalista, ou fotógrafo, são mais voltadas pela capacidade e talento individual, e um diploma não valida a competência do sujeito, assim como você não se forma em Artes Plásticas e vira um grande artista porque você aprendeu a pintar com tinta acrílica! Você pode saber usar uma 8X10′ ou destrinchar num gráfico 3D como a luz atinge um sensor digital! Mas saber isso não o torna um grande fotógrafo, não lhe confere repertório! A seleção é feita pelo mercado, seja ele qual for, editorial, publicitário ou artístico .
Creio sim, que o conteúdo aprendido numa boa universidade é uma possibilidade que pode ser agregada ao talento deste ou daquele profissional . A história mostra que alguns grandes fotógrafos passaram pelas escolas e souberam aproveitar o que aprenderam. Entendo que quanto mais cultura, melhor é para o fotógrafo, maior se torna seu vocabulário, melhor é sua autocrítica, maiores são as possiblidades técnicas e filosóficas para desenvolver seu trabalho. Basta olhar o background de alguns jovens fotógrafos que estão se destacando…muitos deles passaram pela universidade.
OLHA, VÊ Basicamente, a minha educação em fotografia foi através da revista Irisfoto. Isto entre 1989 e 1991. Até carta, escrevi para pedir conselhos sobre a máquina que pretendia comprar (a minha primeira câmera, uma Yashica FX-3). Qual a importância de uma publicação como a Irisfoto e como andam as publicações hoje em dia nesse mundo de internet e blog?
JUAN ESTEVES Compartilhei com você esse aprendizado. Quando comecei a fotografar, as revistas nacionais eram a Iris Foto, a Atualidades Fotoptica, a Câmera Photo, se não me engano… Tinham as importadas, Camera Arts, Popular Photograhy, Photo, Zoom e outras mais caras como Aperture, Camera Internacional e a Blind Spot. Ainda me lembro com emoção quando a Iris deu uma página sobre um trabalho meu de 1981. Nossa! só faltou emoldurar a página!
Anos depois, já fotógrafo profissional e escrevendo para Ilustrada, da Folha, fui chamado pela professora Simonetta Persichetti, então editora da Iris, para fazer uma coluna sobre livros. Ela saiu logo em seguida, mas continuei com novo editor, que um tempo depois, me deu mais uma coluna para escrever, sobre fotojornalismo. Quem quiser saber mais sobre as revistas brasileiras pode consultar o site do historiador Ricardo Mendes, o Fotoplus, que é muito bom!
Acho que fiquei na Iris Foto uns quatro anos… A revista ultrapassou os 50 anos de existência! A coluna de livros era uma versão resumida da que faço desde o início do Fotosite até hoje. As vezes encontrava leitores nos lugares mais distantes que vinham conversar comigo e diziam que a única fonte de informação era a revista Iris. Por mais incrível que pareça, ainda hoje acontece isso com leitores da Fotografe, lembre-se que no Brasil a inclusão digital não é tão grande…
A questão é que o pessoal guarda as revistas, coleciona, e de tempos em tempos volta a olhar! Dificilmente isso acontece com blogs e sites…Por muito tempo eu imprimia tudo que queria ler com calma…depois passei a copiar em word e quardar no próprio Mac…Mas a quantidade de informação é tão grande e tão diversificada, que não consigo absorver tanta informação e qualificá-la como boa ou ruim, somente parte dela…
As revistas eram e são limitadas ao espaço físico. Mas, assim como os livros, são absolutamente necessárias! Para um fotógrafo, o tato com o papel é fundamental! É inerente a fotografia! Mas a internet é literalmente um saco sem fundo! Tenho um arquivo virtual, com milhares de imagens e textos sobre fotografia e arte, extraídos de sites do mundo inteiro! Isso porque sou limitado a alguns idiomas… Mas, não deixo de ver e ler os impressos, que é quase um ritual nos dias de hoje…Já tentei levar o i Book para cama! Mas esquenta a barriga!
No princípio do Fotosite, por exemplo, eu achava que as informações da net deveriam ser mais rápidas e curtas. Diferentes das revistas impressas que podiam se aprofundar mais no conteúdo. De um tempo para cá, acho que não tem porque não aproveitar esse saco sem fundo virtual, como estou fazendo agora, com longas respostas. Acredito que existam leitores que possam gostar e aqueles que não chegaram nesta linha… Até porque as revistas reduziram a quantidade de páginas…Admiro muito o Sergio Branco, editor da Fotografe, por me dar 10 ou 12 páginas para uma matéria que escrevo. É uma prova do investimento da revista em seu conteúdo cultural.
Imagino que a net nunca venha tomar o lugar das revistas e livros. Precisamos pegar na mão, sentir cheiro de tinta, sentir as rugas do papel. Nem que seja para dizer: nossa que impressão ruim!!! Não há dúvida que poucos sobreviverão. E isso vem acontecendo com a net também. Você entra num blog ou site, não encontra nada interessante, você não volta mais! E os bons ficam no seu bookmark! Você assina só as newsletters que interessam!
Temos bons sites, bons blogs, se soubermos olhar. Neles estão informações, entretenimento, cultura e debates. Fica mais fácil de compartilhar informações, contudo é como na Wikipedia…é preciso olhar bem para não comprar gato por lebre. Ou como diz o jornalista Fernando Paiva, a maioria dos sites chama Jesus de Genésio! Embora, não há dúvida, é uma mídia fantástica. Recentemente, para escrever um texto sobre um livro, entrei num site, o www.archive.org, onde encontrei uma edição completa de um livro que procurava . Melhor, era facsímile, do início do século 20, da biblioteca de Harvard! No meio de tanto lixo, isso é realmente uma pérola!
OLHA, VÊ Os seus textos que são publicados na revista Fotografe Melhor e no portal Fotosite (agora Clix), vem se destacando como um dos poucos “respiros” para o fotógrafo interessado em história da fotografia e crítica fotográfica. O que você acha da atual crítica sobre o segmento da fotografia?
JUAN ESTEVES Primeiro, fico lisongeado pela menção! A crítica é uma questão complexa…Até porque, sou um profissional que produz aquilo que critica… Mas penso que não escrevo só para os outros. Escrevo para mim também! Pois escrevo sobre aquilo que também tenho interesse, me interessa compartilhar essas informações com outras pessoas porque isso gera mais discussão, mais interesse e por consequência mais informação eu tenho. Não acredito naquela crítica rasa, de gosto não gosto. Ela tem que ser fundamentada e são nesses fundamentos que estão a difusão das ideias, e circulando, são estas que promovem as discussões. Há aqueles que me acompanham e os que não. Como tudo na vida…
As vezes recebo emails que aprofundam a discussão e as vezes outros que querem só dar um piteco. Não é fácil… Procuro colocar o máximo de informações que tenho, pois acho essa a função maior da crítica. Jamais comentaria um livro dizendo que tem muito amarelo nas imagens, por exemplo. É coisa de quem não tem o que fazer ou não sabe o que escrever sobre o assunto. Por sorte, creio, tenho leitores que nem sempre concordam com o que escrevo. Isso é muito bom, podemos discutir mais o assunto, revejo minha opinião, e ele a dele, ou seja, somente aprendemos mais com isso.
Paulatinamente perdemos nosso espaço crítico nas versões impressas. Hoje ele é relativamente restrito. Mas isso é um problema generalizado do jornalismo atual. É preciso lembrar que nos cadernos de cultura dos grandes jornais não temos mais um Mário Pedrosa ou um Wilson Coutinho, que já morreram, ou um Olívio Tavares de Araújo, que hoje só escreve em livros. Digo isso com pesar…porque um bom texto fundamentado como o deles só acrescentava!
Tivemos bons textos sobre fotografia na década de 80 produzidos pelo Moracy de Oliveira, por Rubens Fernandes Junior e a Simonetta Persichetti, que há algum tempo retornou as páginas do Estadão. Mas ainda o espaço é pouco… Temos excelentes pensadores como a Helouise Costa, o Ronaldo Entler, o Fernando de Takka, e o próprio Rubens Fernandes Junior, que poderiam escrever para a mídia impressa, mas infelizmente para o grande público, estão mais voltados para seus afazeres acadêmicos, e só encontramos seus pensamentos em livros, pesquisando as universidades ou eventualmente em blogs.
Em compensação, apesar de serem pouquíssimos, um bom blogueiro é um crítico em andamento. Ou poderia ser! O espaço é aberto! Se ele tem muitos ou poucos leitores, é outra coisa… se tem poucos ou muitos posts é outra… Li a coluna do João Pereira Coutinho, na Folha, que comentava o livro “O culto ao amador” do Andrew Keen. Ele escreveu uma coisa um tanto desanimadora sobre blogs : “Um exército de blogueiros de pijama que acreditam e professam um radical igualitarismo de opiniões. Na internet um Phd de Harvard acaba tendo o mesmo peso que um adolescente autodidata! “. Acho verdadeiro, absolutamente verdadeiro, mas, não podemos desanimar porque isso acontece! Tem coisas muito boas. O próprio Keen tem um blog onde ele discute política, cultura e a imprensa, que vale a pena http://andrewkeen.typepad.com/
Também é necessário destacar duas coisas: São raros os fotógrafos que aceitam uma crítica. A maioria – até mesmo os que mal começaram – saem emburrados de uma leitura de portifólio não muito positiva… e são raras as editoras que colaboram com a crítica especializada…É comum eu receber e-mails querendo que eu comente um livro e a assessoria da editora manda um release (na maioria das vezes mal escrito e sem informações necessárias) e algumas imagens para avaliação (estas, a quase totalidade sem file-info). Se você se interessa e pede mais informações, mandam um PDF do livro… Eles não tem ideia do que pode e deve ser avaliado num livro de imagens.
Creio que a internet ainda não entrou na lista da “mídia aproveitável” de muitas assessorias de imprensa! De uma pequena parte, aquelas mais sérias, sim. A internet é um meio interessante para crítica e difusão de um livro. Mas… em pleno século 21, ainda existem aquelas assessorias que, para mostrar serviço, priviligiam os grandes jornais e revistas… Para estes mandam exemplares quentinhos para o editor do caderno, para o sub-editor, para o secretário de redação, para o diretor do jornal, e assim vai…As vezes… até mesmo para o colunista da área! A maioria destes livros vai parar nos sebos da cidade…Ou como acontecia no meu tempo de jornal diário, nas mãos de contínuos e secretárias…que os vendiam por ai… Se bem que, conheci uma que lia tudo que ganhava!
Na verdade eles não esperam que eu o avalie. Eles esperam que eu o endosse (coisa corriqueira na maioria da imprensa atual, infelizmente ). Tenho um pilha especial no canto da minha biblioteca com aqueles que serão devolvidos sem crítica! Um livro de textos tudo bem, mas no de fotografia é preciso olhar além das imagens! A impressão, gramatura e tipo de papel, se ele é funcional, se a consulta é agil, se o projeto gráfico é bom…tudo isso faz parte do objeto “livro” a ser analisado. E…ainda existem aqueles que enxergam na crítica algo maniqueísta…
OLHA, VÊ Em sua opinião, qual a importância do texto crítico para a construção da História da Fotografia Brasileira?
JUAN ESTEVES Se você quer narrar qualquer história tem que passar pela crítica. Aquela construtiva que acrescenta subsídios ao nosso pensamento. Por exemplo, quando você escreve que tal obra remete a de outro, você não está diminuindo o primeiro, e sim acrescentando mais um ítem na pesquisa. É só ler qualquer historiador, como Hobsbawm ou Durant, é assim que funciona! Um exemplo mais simples, apenas das notas de rodapé do “1808”, livro sensacional do Laurentino Gomes, pincei uma meia dúzia de livros também sensacionais, de leitura deliciosa! O seu seu alcance cultural adquire caráter exponencial!
Alguns trabalhos da Funarte, feitos pela Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, do Rio de Janeiro, que mapearam a fotografia brasileira das últimas década são de enorme importância! O da Heloiuse Costas sobre os nossos modernistas, assim como são o do Joaquim Marçal, da Biblioteca Nacional, com sua história da fotorreportagem; ou os livros do Pedro Vasquez sobre a fotografia no tempo do império; ou as obras do Rubens Fernandes Junior, sobre fotógrafos como o Becherini e Geraldo de Barros. Todos usaram as críticas de época ou de hoje em suas referências!
Temos também muitos trabalhos acadêmicos de qualidade! Infelizmente a maioria deles não deixam as estantes da Universidade, mas quando chegam ao grande público, ou seja quando a gente pode achá-los numa livraria, como alguns que citei acima, ou os das professoras Georgia Quintas e da Lucy Figueiredo, é muito bom. Aliás está aí uma das vantagens da net também, ter acesso a muitos destes textos, em forma de PDF. O site que mencionei acima é muito bom, a gente pode ter acesso a documentos gratuitamente, mais de um milhão de textos! Há livros inteiros! Melhor, as vezes você até mesmo escolhe o formato que quer olhar! Basta querer olhar! Acho que é o princípio da fotografia não? Querer olhar!
Cristiano Mascaro | 2003
Arnaldo Pappalardo | 2008
Pingback: Olha, vê | Alexandre Belém » Sontag por Juan Esteves
Pingback: Olha, vê | Alexandre Belém » W. Eugene Smith no laboratório