Retrato, Fotografia e Identidade

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Foto: Flávio Colker | Cássia Eller, 1999

O fotógrafo carioca Flávio Colker colabora com o Olhavê com um texto sobre identidade e retrato. Mais do que um artigo jornalístico ou acadêmico, é uma opinião, um relato carregado de experiências e repertório.

Conheci Flávio em Paraty e trocamos algumas palavras. Ele falou sobre um texto que tinha escrito e fiquei interessado. Flávio é autor de imagens que marcaram a identidade de várias pessoas. O site dele é uma viagem por fotografias e retratos. Não percam!

Abaixo, coloco trechos do artigo de Flávio e disponibilizo o PDF do texto completo. Link do PDF: Retrato, Fotografia e Identidade

Foto: Richard Avedon | Truman Capote, 1974

“[…] O exemplo mais expressivo desse momento de ruptura é o retrato do escritor Truman Capote. Conhecido por sua verve espetacular, Capote é sucesso, encantamento e Glamour. Na foto de Avedon, é um homem de pele gasta e olhar opaco. O contraste entre imagem e poder, identidade… A consciência do retratado, é impressionante. Truman Capote não está ali! A inteligência está em outro lugar. A conversa brilhante não está ali. Avedon recusa os truques e não emposta no corpo de Capote uma identidade clichê. Aquele retrato não revela um homem e sim as próprias limitações da imagem na representação da identidade. Arte. Eu duvidei da conquista de Avedon a principio. Seu status de fotógrafo celebridade permitiria adotar uma postura gauche e produzir uma foto “ruim” de Truman Capote. Seria um maneirismo, uma estética “cool”. Foi quando comecei a pensar os problemas da palavra x imagem que entendi como ele abandonou a estética para reencontrar a ideia básica do monoteísmo: a verdade do ser não se revela em imagem. Os retratos de Avedon reencontram a visão monoteísta, judaica do sujeito no mundo. […]”

Foto: August Sander | Young Farmers, 1914

“[…] Na coleção de retratos de Sander, o individuo não luta contra seu lugar no mundo. Sander é neutro em relação a hierarquia social e essa neutralidade é avançada. Um conservador? Os fotógrafos de 1930 e poucos nos Estados Unidos, México e Europa eram ligados ao socialismo e aos movimentos de transformação da hierarquia social. Não há crítica social em Sander, apenas reconhecimento. Por que a repressão do Nazismo ao seu trabalho? Foi por reconhecer ciganos, artistas, homossexuais, judeus na ordem alemã. Por representar a Alemanha sem consultar os Fascistas. Em uma de suas fotos, três rapazes camponeses se dirigem ao mercado em dia de domingo. Eles estão em uma estrada enlameada, vestidos como cavalheiros, dandis com bengalas e chapéus posando para a câmera. A composição é simples. Sander não sugere nada além da contradição campo x cidade mas ali aparece de maneira elegante e sucinta um momento da historia alemã: a luz atraente da cidade sobre o campo, os valores urbanos transformando e conquistando o coração dos camponeses. Essa imagem de Sander aparece em um documentário do cineasta Wim Wenders, “Notebook on cities and clothes”, sobre o estilista Yohji Yamamoto nos anos 80. O designer tem as fotos de Sander como matriz inspiradora de suas coleções de moda e essa em particular é a que mais move sua inspiração. […]”


Alexandre Belém | Olhavê
http://olhave.com.br

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