Fotos: Alexandre Belém
Marcelo Soubhia, Rogério Assis, Pisco del Gaiso e Adi Leite
Hoje, completaria 10 anos do lançamento do Fotosite. Este post é uma homenagem!
Para quem conheceu o Fotosite… Conheceu. Para quem não teve a chance de acompanhar… Clique no banner ao lado e navegue pelos arquivos e se perca [e se ache] pela fotografia brasileira. É muita coisa… Comece pelas Notícias, Portfólios, Visor, Especiais, Colunas, Semana da Fotografia, etc.
Acompanhei de perto, do Recife, mas com o computador e a minha internet discada. Era o nosso portal, a página inicial, a nossa revista. Também, fiz alguns frilas para a Agência Fotosite e conheci a redação do já famoso Portal Fotosite. Os “caras”… Só feras… E o mais importante, tudo gente boa e da paz.
Foi assim que eles construíram uma história que marcou o percurso da fotografia brasileira. Uns saíram antes, outros, depois. Em encontro com os quatro, meses atrás, notei a amizade no ar e nas palavras, ainda hoje forte, refletindo o que foi no passado. A sinceridade e honestidade era a marca do que faziam no Fotosite.
Hoje, Adi é professor universitário de fotografia, além de ser especialista em Heiki e medicina chinesa. Marcelo não parou com os desfiles e toca a Agência Fotosite, referência em cobertura de moda no Brasil. Pisco roda o Brasil fotografando. Rogério, além de fotografar, é dono da Editora Mandioca que edita a revista Pororoca, uma edição que preza pela reportagem e beleza das imagens.
Uma das marcas do Fotosite era a qualidade do jornalismo e a reputação do grupo de colaboradores e articulistas. Todo esse pessoal fez o Fotosite ter a fama, mais do que merecida. Eram fotógrafos, jornalistas, críticos, curadores, pesquisadores, etc… Uma maravilha! Sem esquecer Bob Wollheim, que entrou no projeto e ajudou o Fotosite a seguir em frente e realizar outros projetos.
Para homenagear a data, um bate-papo com os quatro fundadores do Fotosite e um quinto elemento, Beto Monteiro. Beto fez a marca e o primeiro site.
Último template
OLHAVÊ Como surgiu a ideia do Fotosite?
ADI Me lembro de estar freelando para a Abril, e encontrar o Tché (Marcelo Soubhia) e o Pisco, no café ou fumódromo, e começarmos a falar em fazer alguma coisa juntos… E então alguém, acho que o Pisco (???), falou em criarmos um portal de fotografia… Pensamos em chamar o Barão (Rogério Assis), que na época era editor de fotografia da Star Media em Nova York e, se não me engano, estava pensando em voltar para o Brasil. Depois da chegada do Barão, convidei o Beto Monteiro para abraçar o projeto criando o visual do portal… O Tché deu o nome… O Beto fez o logo… E botamos o site pra rodar….
OLHAVÊ O Fotosite trouxe temas que não estavam só relacionados ao click. Como você analisa a importância do portal como agregador de ideias e um começo de comunidade?
ADI Acho que foi importante na medida em que trouxe a público toda a fotografia brasileira. O Portal juntou a fotografia do Brasil inteiro num só ambiente.
OLHAVÊ Qual a sua análise sobre a fotografia brasileira na web e em revistas impressas?
ADI Nossa!!! Difícil responder essa questão. É muito fácil falar né? Mas o que observo é que estamos meio embolados… Muita gente fotografando… Mas, a técnica nesse momento está a frente da capacidade criativa… Acho que é assim mesmo, ainda não nos situamos direito dentro dessas transformações, paradigmas, parâmetros seja lá o que for. Estamos encantados com todas as possibilidades tecnológicas… Em breve amadureceremos…
OLHAVÊ Você foi um dos primeiros a sair do projeto. Como você acompanhou o Fotosite?
ADI Torcendo, e admirando a perseverança do Tché e do Pisco. Eles foram brilhantes. Acho que o Fotosite ter se transformado em uma revista impressa, as semanas de fotografia… Os caras conseguiram!!! O Fotosite virou marca de verdade graças a esse trabalho deles. Acho que a fotografia brasileira agradece!!!!
OLHAVÊ O que o Fotosite representou para a fotografia Brasileira?
MARCELO Acho que naquela época, há 10 anos atrás, o Fotosite representou o início do uso internet como ferramenta de aproximação da comunidade fotográfica brasileira. Foi lá que a troca de informações e de notícias encontrou uma plataforma para troca de idéias e de imagens. Foi um passo importante para a fotografia brasileira.
É muito bacana ver hoje, que tudo isso que fazíamos naquela época se multiplicou, e agora contamos com vários sites e blogs de qualidade espalhados pelo Brasil.
OLHAVÊ A Revista Fotosite foi um grande passo como produto do Fotosite. Como foi a primeira edição e a emoção de ver a revista impressa? Era a capa de Otto? Como você “vê” as revistas de fotografia no Brasil?
MARCELO Eu, pessoalmente, sempre tive o sonho de fazer uma revista de fotografia.
Me lembro muito bem da cena num boteco em frente à [gráfica] Pancron no dia da impressão da capa da número 1, com a foto do Otto. Pisco e eu fomos acompanhar esse momento: numa mão a primeira capa, na outra o copo de cerveja e os olhos: cheios de lágrimas. Foi a realização de um sonho. Sabíamos que ainda tínhamos muito a fazer para ter uma revista realmente de qualidade, e isso, depois da minha saída o Pisco foi conseguindo a cada novo número até onde o fôlego agüentou…
OLHAVÊ O Fotosite exerceu um papel de agregador e aproximou as regiões e produção brasileira. Isso se deu muito pela internet. Como foi que aconteceu isso? Foi pensado essa estratégia?
MARCELO O Fotosite sempre aconteceu de forma bastante intuitiva e na raça. Fazíamos reuniões de horas e horas tentando achar a fórmula mágica. Conseguíamos agregar, aproximar, informar, trocar. Só não conseguíamos fazer uma operação financeiramente equilibrada. Não tínhamos estratégia de negócio. Só tínhamos vontade de fazer a coisa dar certo. O Fotosite existiu por todo esse tempo simplesmente pela vontade e comprometimento das pessoas que por lá passaram. O que bancou o site por muito tempo foi a receita que a Agência [Fotosite] gerava com o nosso click.
Esse papel agregador acabou acontecendo mesmo, pois não existia nada parecido naquele momento. E como disse acima, hoje isso se dá de uma forma muito mais natural, inclusive por que as ferramentas são outras.
OLHAVÊ Um dos primeiros grandes trabalhos da Agência Fotosite foram os desfiles de moda. Passados dez anos, este ainda é o carro-chefe da agência. Conte-nos como foi que começou isso?
MARCELO Naquele momento, em 2000, no boom da internet, fomos procurados pelo portal Paralela, da Editora Abril, para fazer uma cobertura em tempo real do Morumbi Fashion (o atual SPFW). Ainda não tínhamos equipamento digital, mas como vimos aí uma oportunidade compramos duas câmeras DCS, aqueles monstros. O novo equipamento chegou pela manhã no dia do evento. Colocamos as baterias para carregar e foi aí que nasceu a Agência Fotosite. Foi a primeira cobertura digital do evento. Aprendemos tudo na raça. No próximo evento, 6 meses depois, já nos tornamos os fornecedores oficiais do SPFW, o que acontece até agora.
Nessa época também lançamos o nosso site de downloads e começamos a cobrir futebol, subindo as fotos de dentro do campo com laptop e celular. Ninguém ainda fazia isso aqui no Brasil naquela época. Foi um momento de muitas mudanças na fotografia e foi muito bom ter participado dessa transição.
Hoje a Agência continua crescendo nessa área de desfiles de moda e não teria a posição que tem hoje no mercado se tudo aquilo que foi plantado há 10 anos não tivesse acontecido.
Edição nº 1 da Revista Fotosite
OLHAVÊ Qual era o propósito do Fotosite?
PISCO Como dizia o escritor inglês Thomas Fuller, “Quando o vento sopra, você deve içar suas velas”. Oportunidade! Nascemos da oportunidade em meio a Bolha da internet, abril de 2000. Quem se lembra disso sabe o que era abrir os jornais pela manhã. A cada dia algum site que mal havia nascido era vendido por uma fábula.
Tudo era super dimensionado…valores, possibilidades, especulações tecnológicas. Então, por que não fazer um site sobre fotografia?
E nós tínhamos conteúdo a oferecer, conhecíamos o mercado. Era só organizar isso e pronto, seríamos comprados, incorporados, sei lá…ficaríamos ricos!
Uma vez, um cara que foi procurar emprego no Fotosite, me disse que queria ações da empresa. Isso aconteceu numa reunião em nosso pequeno escritório na Rua Helena, coração da internet em SP.
Vai vendo o papo do sujeito!!! O cenário era esse, insane!!! Mas, apesar dessa alta expectativa, a tecnologia era ridícula! Dava muito trabalho fazer o site, trabalho braçal mesmo!
Durante muito tempo as páginas do Fotosite foram feitas pelo Photoshop, página a página…desenhadas pelo Beto Monteiro, um herói…era uma revista digital ao pé da letra. Até que as possibilidades de templates se tornaram viáveis. Lembro que nossa newsletter era enviada, lá no começo, por Outlook, uma loucura se você pensar na tecnologia que temos hoje. Passávamos madrugadas fazendo isso…”fechando” uma edição do Fotosite, adicionando emails que se cadastravam no site… imagina!!!!
Mas esse comprometimento é que fez o projeto acontecer e, depois, ter respeito não só na comunidade fotográfica. Cuidávamos muito da informação publicada. Respeitávamos os fechamentos, horário dos boletins e etc… Não me lembro de ter falhado um boletim durante toda a história do Fotosite. Era compromisso mesmo, aprendizado de jornal diário. Já viu a Folha de S. Paulo ou outro jornal sério não sair no dia seguinte? Tínhamos isso no DNA.
OLHAVÊ Você era o editor da seção Visor e teve a oportunidade de ver muito portfólio. Como foi essa época e você lembra de algum nome que hoje despontou?
PISCO Se me permite, vou abrir o foco, colocar na resposta uma lente 20mm. O visor tinha o propósito de oferecer um “berço” inicial de publicação com um crivo. Ele estimulava novos fotógrafos a ver seu trabalho publicado e, principalmente, comentado por um editor. Coisa séria você dar opinião e publicar essa opinião. Isso tem um impacto na vida das pessoas que estão começando, sabe! Mas além do Visor, o Fotosite ajudou a mostrar a fotografia brasileira para o mundo. Participamos do Festival de Arles em 2006 com uma série de exposições digitais.
Antes disso, via Fotosite, o concurso Joop Swart Masterclass [do World Press Photo] premiou dois brasileiros, Maurício Lima e João Kehl. Tenho muito, muito orgulho disso. Foi uma festa na redação do Fotosite. Isso quer dizer que sabíamos o que o mundo estava consumindo de fotografia. Atentos e conectados aos outros mundos que a internet tratou de aproximar e misturar.
OLHAVÊ Fale sobre a experiência da Semana de Fotografia feita pelo Fotosite.
PISCO Acho que foi o auge do projeto. A Semana, e a revista impressa junto com a Fnac e a Epson… era um sonho realizado, materializado de fato, delícia de fazer, reunir gente boa, trazer os gringos. Eram nossos pilares, o tripé do projeto… papel, evento e internet, passamos o rodo! rsrsrsrs!
Esse conceito do tripé foi do Bob [Wollheim], que era o cara do negócio e é até hoje com a Sixpix….
Posso dizer que, nessa época, já éramos ”institucionalmente” milionários. Então, posso dizer que já fui milionário com a fotografia! rsrsrs
Mas o bolso sempre esteve vazio!
OLHAVÊ O Fotosite exerceu um papel de agregador e aproximou as regiões e produção brasileira. Isso se deu muito pela internet. Como foi que aconteceu isso? Foi pensado essa estratégia?
PISCO No começo não foi pensado não, foi acontecendo. Trabalhos chegando, enfim… Como disse certa vez o sábio João Bittar….”o Fotosite é ecumênico”… e era verdade… juntávamos tudo, todas as vertentes da fotografia… moda, publicidade, enfim… o espaço era vasto e a capacidade de editar e publicar era muito forte. O site era ágil e, ao mesmo tempo, equilibrado. Claro, sou o cara mais suspeito pra dizer isso. Mas, enfim…. o site em si, era só uma ferramenta, o diferencial era a equipe, o tipo de gente que passou por lá. Gente comprometida com o que estava fazendo! Não tinha jabá de lado nenhum, tinha sim um compromisso com a informação visual e escrita… fotografia acima de tudo. Um site de fotografia feito por fotógrafos…s abíamos o que estávamos fazendo do ponto de vista editorial. E isso se espalhou, ganhou respeito e virou vitrine, especialmente fora dos grandes centros. Agora, do ponto de vista do negócio, essa estratégia veio depois, numa outra fase do projeto… depois que a bolha estourou! Vacas magras, reorganização e etc… o site quase morreu, chegamos a pensar nisso mas nunca tivemos coragem. Só o Marcelo Soubhia e eu tocando a parada e tentando fazer algum dinheiro para pagar o Black Label das crianças! rsrsrs
Mas o Fotosite estava lá. Apesar das dificuldades o site respondia, os acessos continuavam altos
Sou ruim de datas, mas acho que foi 2003 ou 2004. Depois veio um site novo com as meninas do Criaturas, aí veio o Bob [Wollheim],…novo sócio e novo momento de efervescência. Não sei de onde arrumamos energia pra recomeçar e ampliar a coisa.
Pra finalizar, posso mandar uma frase? Acho que tem a ver com o que foi o Fotosite na minha vida e o que é a minha vida hoje, depois dessa aventura bacana…
“Um homem é um sucesso quando ele pula da cama de manhã e vai dormir à noite e nesse meio tempo faz o que gosta” Bob Dylan
OLHAVÊ O que o Fotosite representou para a fotografia Brasileira?
ROGÉRIO Sem falsa modéstia o Fotosite foi a primeira agência de fotografia brasileira 100% digital. Por exemplo: Fizemos a primeira transmissão via celular enquanto os grandes jornais ainda usavam linha discada convencional.
Acredito que o Fotosite teve tanta importância pra fotografia brasileira, no início deste século, quanto as agências Angular, F4, Agil e outras tiveram nos anos 70/80.
Pensávamos fotografia para além do digital, erámos críticos de nós mesmos, tanto que criamos a “Caverna Digital” no Mês Internacional da Fotografia (não lembro qual), uma instalação coletiva criticando os excessos da produção digital na comunicação.
Atendemos quase que todos os grandes portais de internet brasileiros e alguns internacionais, colocávamos no ar fotos do dia a dia antes de qualquer grande jornal e emplacamos várias capas na Folha e no Estadão.
OLHAVÊ Você já trabalhava com Internet antes do Fotosite. Qual a importância da web para o sucesso do Fotosite como uma rede agregadora da fotografia Brasileira?
ROGÉRIO Trabalhei na equipe do projeto de digitalização da fotografia da Folha, na época comandada pelo João Bittar, depois me graduei no “Digital Midia Lab” do ICP –International Center of Photography. Também fui editor de fotografia da Starmedia Network em Nova York onde comandei uma equipe de sub-editores espalhada por toda a América Latina.
Sem a Internet, o Fotosite não teria conseguido agregar a quantidade e a qualidade dos fotógrafos que, tanto colaboravam pra Agência, como participavam da revista eletrônica e posteriormente da revista impressa da qual não posso falar, pois já tinha me desligado da empresa.
OLHAVÊ Qual a sua análise sobre a fotografia brasileira na web e em revistas impressas?
ROGÉRIO Acho que fotografia brasileira na web está muito a frente da fotografia nos meios tradicionais. Não só plasticamente, mas também como conteúdo teórico e fórum de discussão. Os jornais e revistas impressos tem uma limitação física e editorial que a web não tem.
Quem vai impedir um fotógrafo de criar seu site, seu blog, sua página no Flickr ou Facebook e colocar lá o que bem entender? Só a falta de tempo ou a preguiça.
OLHAVÊ Você foi um dos primeiros a sair do projeto. Como você acompanhou o Fotosite?
ROGÉRIO Foi uma decisão muito difícil deixar o Fotosite, principalmente pela estreita relação sentimental que tenho até hoje com todos os que participaram do projeto. Mas chegou um momento em que as idéias não batiam e eu já não tinha mais com o que colaborar pra melhorar o Fotosite, que foi o que acabou acontecendo com a minha saída. O site cresceu e nasceu a revista impressa.
Sempre acompanhei o Fotosite como leitor até o seu final, que me doeu muito enquanto um dos criadores da idéia.
1º logo, feito por Beto Monteiro
Beto Monteiro
OLHAVÊ Você lembra quando os meninos do Fotosite “lhe chegaram” para fazer o logo e site? O que eles queriam?
BETO Lembro sim. Foi no final de 1999. Nossa primeira reunião foi no estúdio do Catan em novembro de 1999. Na verdade a solicitação não foi só a de criar o logotipo, mas todo a identidade visual e, o mais importante, ajudar a conceber a Revista Fotosite. A princípio pensamos bem grande e o projeto inicial não era só de uma publicação eletrônica. Imaginamos diversos serviços online, mas a modelo que vingou mesmo foi de uma revista eletrônica de fotografia. Até mesmo a atualização do Fotosite obedecia um sistema de publicação semanal, com fechamento rigoroso. A cada semana publicávamos um portifólio de um nome consagrado e apresentávamos um fotógrafo iniciante na seção Visor. Além de muitas matérias e entrevistas.
O esforço rendeu frutos e o Fotosite se transformou em referência para fotógrafos e interessados no mundo da fotografia.
OLHAVÊ Qual foi a sua ideia/concepção para o logo?
BETO Na criação do logotipo parti de uma idéia simples: a fusão do olho humano ao diafragma de uma câmera. Tentei dar um aspecto mais “pop” e divertido à marca, porque considerei ser mais adequado ao conceito inicial do Fotosite, que era o de expandir os horizontes da fotografia para além do publico especializado.
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