Foto: Mario Cravo Neto
“Quanto à fotografia e à escultura, sei que uma motiva a outra. Às vezes gosto de andar em cima das pedras e às vezes em cima da água, uma leva à outra. Nunca tive que optar por uma ou por outra porque ambas me satisfazem realmente. O importante basicamente é a educação criativa, sem barreiras, sem fronteiras, sem dogmas, de fé, sem partidarismo. Já estou farto de fronteiras de línguas, de países. E por que fazer fronteira na minha própria criação? Por que dizer que tenho de fazer isso ou aquilo? Faço o que quero. Falo a língua que gosto de falar e pago o meu tributo. O importante é que exista a coerência e a persistência do ofício. Não o ofício de escultor ou de fotógrafo, mas o ofício de criador”.
Mario Cravo Neto, 1989
O campo das artes visuais desloca várias certezas sobre o que vemos, ou melhor, nos faz inferir que podemos ver além da previsível realidade. As teorias da percepção da imagem, dos aspectos de interpretação e o envolvimento subjetivo são fatores fundamentais neste processo de análise da imagem. Contudo, “adentrar” no pensamento do artista também nos permite compreender a complexidade poética e estética. Certos depoimentos, com este do fotógrafo Mario Cravo Neto (1947 – 2009), indicam a coerência com sua própria obra.
Mas, não só isso, nas entrelinhas, pode-se perceber algo tão caro aos que criam: encontrar caminhos que gerem o conforto para que, paradoxalmente, as tensões sejam a premissa de uma postura de imersão em seu processo criativo.
Ler esta percepção de Cravo Neto alinha-se a várias questões. Dentre elas, poderia destacar a proposição de que a criação constrói o artista pela consciência do seu fazer e pelo entendimento de suas buscas e inquietações. Sempre aprendemos com as imagens e com as palavras de quem as fazem existir. O que é inescrutável em toda a gama de significados do trabalho de um autor, respira também na força das imagens do que se diz por quem cria.
Por Georgia Quintas.
**
Mais posts da seção Citemos, aqui.
Cravo Neto no Olhavê, aqui.
Comentários 2