Javier Ucles

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A cada ensaio aqui apresentado, aprofundamos linguagens e poéticas. E a cada forma de apresentar um tema, torna-se claro que a fotografia se constitui de várias virtudes. Uma delas nos leva para o domínio do deleite e do mistério icônicos. Encontramos nas imagens não apenas idéias e formas, mas histórias encobertas, veladas… Como que as imagens tentassem persuadir a nossa percepção para nos relacionássemos melhor como o mundo ao nosso redor.

Urban Shadows de Javier Ucles, fotógrafo guatemalteco, realizado em Madri (2009) traz a fragilidade do fotógrafo diante do fotografado. Ou melhor, coloca a teatralidade de que as coisas seguem seu percurso natural diante da presença de uma câmera. As cenas de Urban Shadows são dicotômicas, pois abrem feixes de interiorização na relação do contraste entre o claro e o escuro, entre o “real” e o que de modo tênue obscurece o “próximo passo” do transeunte fotografado por Ucles.

O tema é recorrente. Como não recordar dos retratos no metrô e na rua do clássico Walker Evans. Contudo, há dinâmica e fruição de sentidos no ensaio. A sombra para Javier Ucles é um artefato de linguagem que encaminha o olhar do espectador para o vazio, para a ausência de referentes e de ficções indiscriminadas através de cada retrato. O fugidio aparente no ensaio de Javier Ucles é o simulacro de que a câmera observa como um voyeur e apreende o que vemos. No entanto, esse é um propósito empírico armazenado em nós. Para o pensamento, o efeito é outro: o da ordem simbólica.

Uma das mais belas reflexões sobre filosofia e arte, foi colocada pela filósofa Suzanne Langer, no qual ela fala de sentimentos icônicos. Fácil compartilhar esta colocação com a imagem fotografia: “O que é importante na vida humana é a sensação, lembrada ou antecipada, temida ou procurada, até mesmo imaginada e evitada. É a percepção moldada pela imaginação que nos fornece o mundo exterior que conhecemos”. Esse trecho de Langer (Feeling and Form,1953) se alinha ao movimento de claro e escuro contemplado no ensaio. E não seria o vaguear por entre cada “personagem” quase que um ato espectral da memória pelo outro. Como que em um movimento que tenta reconhecer ou viver aquela luz e adentrar no escuro para compreender melhor essas sensações.

Por Georgia Quintas

* Texto originalmente publicado em 2010 no Fórum Virtual, blog do Fórum Latino-americano de Fotografia de São Paulo.

Fotos: Javier Ucles

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