Joan Fontcuberta

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Georgia Quintas está em São Paulo acompanhando o Seminário Internacional “As invenções da Fotografia Contemporânea” e envia para o Olhavê a sua impressão sobre a palestra do espanhol Joan Fontcuberta.

Fotos: Christina Rufatto/Divulgação

Joan Fontcuberta: a quintessência do simulacro.

por Georgia Quintas, São Paulo

Ontem, assisti à palestra do fotógrafo e teórico espanhol Joan Fontcuberta. Foram duas horas (que poderiam ser muita mais) de total sedução e profissionalismo. Com sua apresentação “Imágenes Cosnpirativas”, Fontcuberta envolveu um auditório lotado conduzindo sua fala compassadamente, construindo quase que uma dinâmica de ópera com ápices de alegorias, passagens mais serenas, arroubos e grande apoteose. Foi assim, tudo muito bem orquestrado e emaranhado sobre a ficção na fotografia e suas produções fotográficas.

Joan Fontcuberta é um dos pensadores mais expressivos sobre a linguagem fotográfica da atualidade. Não é um teórico qualquer. Também não o é um fotógrafo qualquer. Pensamento e imagem fotográfica são coerentes no seu discurso. Seria como se víssemos quando ele explana, assim como sentimos sua retórica quando contemplamos seu trabalho imagético. Fontcuberta sabe persuadir pela palavra, é eloqüente. Trabalhou sob a perspectiva do simulacro do começo ao fim. Deixa logo claro que a realidade é uma “ficção entranhada na fotografia”. E o que o nosso olhar tenta argüir diante de uma imagem é vislumbrar “maneiras de estruturar o sentido do real”.

Quem conhece mais profundamente a obra literária de Joan Fontcuberta sabe que suas explanações e eixos epistemológicos giram em torno da construção de significados que permeiam a fotografia. “Verdades” estas ainda bem que não existem. O que Fontcuberta nos ajuda a perceber é que categoricamente, como ele mesmo se refere: “Toda imagen es una trampa”. Ao entender esse viés de simulação, das idiossincrasias e as particularidades autênticas desta linguagem podemos expandir a nossa percepção crítica diante do mundo iconográfico no qual vivemos.

Didaticamente, com humor refinado e perspicaz, Fontcuberta destrinchou sua conduta “simulada” em seus projetos/ensaios: Herbarium, Fauna, Sputinik e Descontructing Osama. Analisando imagens, colocando música e vídeos, nos seduziu. Parece ser superficial? Não, foi uma conferência emblemática e extremamente sutil em seu refinamento conceitual. Pois nada era tão real como a vontade de expor que imagens confundem e que direcionam os sentidos simbólicos. E o contexto perceptivo de tudo isso? De certo, é cultural e ideológico. Joan Fontcuberta conspirou. Nos apresentou que um discurso é feito de imaginário e postura de convencimento. Teorizou o tempo todo. E foi a prova personificada que acreditar é olhar com atenção o que o outro quer nos contar. Fontcuberta instalou a dúvida, a dualidade, a dicotomia em sua fala. Não de forma prosaica, mas vigorosa como que para provar que há muito mais além do que vemos.

A imagem que Fontcuberta nos deixa é de reflexão sobre a latitude do caráter ficcional na fotografia. O caminho é o das articulações e das associações de histórias. Se tudo isso é crível? Só depende de quem acredita. Se você que está lendo este texto achar que não tenho credibilidade, bom, então nada será verdade. E, portanto, ontem não foi uma experiência real…

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