Pedro Martinelli

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Foto: Pedro Martinelli, 1970

Por Pedro Martinelli.

Este post foi escrito especialmente para a sessão “A foto que eu gostaria de ter feito” do blog Olhavê a pedido do amigo Alexandre Belém e está sendo publicado simultaneamente hoje.

Uma das fotos que eu gostaria de ter feito e não fiz foi neste lugar.

Claudio Villas Boas era o chefe da expedição de contato dos índios gigantes, os Kranhacãcores e estava em cima dos paus da derrubada das árvores do local onde seria construído o primeiro campo de pouso nas margens do Rio Peixoto de Azevedo, na divisa dos Estados do Mato Grosso e Pará, em 1970. Naquele dia Claudio parou em diversos pontos para conferir o alinhamento da pista com a bússola e eu acompanhava fotografando. Esta é uma das fotos que eu fiz naquela manhã. Com uma Nikon F e uma 85mm 1.1: 8 eu fazia o enquadramento quando, de repente, o Claudio sumiu do meu visor. Sai desesperado pulando por cima dos paus e galhadas para acudi-lo e, quando me aproximei vi a seguinte cena: Claudio no chão, tombado de lado com seu Schmith Weston cromado apontado para a cabeça de uma cobra surucucu enorme que estava a dois palmos de distância do cano do revólver. A cobra estava empinada, brava, a um metro do chão, mais alta que o braço do Claudio.

Fiquei paralisado, em silêncio acho que alguns segundos, me lembro de ter ouvido a minha própria respiração e em seguida o tiro espatifando a cabeça da cobra. Que chapa maravilhosa eu fiz. Ela esta feita mas só eu vejo. Esta que é feita com máquinas eu não fiz, gostaria de ter feito para poder mostrar para voces a cena de um homem muito corajoso, de mãos enormes e alma pura que entregou a sua vida para os índios. A noite ele me contou o que pensou quando viu a surucucu na altura do seu tornozelo. “Quando eu vi ela subindo por baixo da bússola pensei, vou morrer. Então, resolvi pegar ela de surpresa e pular de lado com os dois pés bem juntinhos para ela não ter tempo de me pegar”. Eu deixei de fazer muitas outras fotos boas graças aos meus anjos da guarda Albina, os irmãos Claudio e Orlando Villas Boas e Erno Schneider que me ajudaram a tirar o filme com a foto do primeiro contato do fundo do rio Peixoto de Azevedo. Não fosse eles minha trajetória provavelmente seria outra e eu não estaria aqui agora contando esta história.

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