© National Portrait Gallery
Por Manu Melo Franco.
Fazendo um tour pelas zilhões de galerias de arte em Londres, passagem obrigatória foi a National Portrait Gallery, onde havia pisado pela última vez em 2005. O que minha frágil memória guardava daquela visita eram as paredes cheias de retratos pendurados e nomes clássicos com os quais ainda me familiarizava por estar no começo do meu namoro com a fotografia. Pois bem, agora as coisas se mostraram um pouco diferentes, sem entrar no mérito do melhor ou pior, do novo ou velho. Compartilho aqui algumas coisas que me chamaram a atenção e dividiram minha experiência entre ver, sentir e enxergar. Tudo carregado da gratificante sensação de transgressão e inquietude.
Queen and Country – Steeve McQueen
A primeira sala apresentava uma enorme caixa de madeira hospedada entre quatro paredes completamente brancas e vazias. Senti que a obra me desafiava. Será que preciso dar um comando mágico para a caixa se abrir em forma de um retrato? De alguma forma a imagem precisa de mim para acontecer.
O inglês Steeve McQueen criou uma espécie de armário com uma série de “páginas” dupla face que saem da tal caixa de madeira. Cada painel contém um políptico de retratos dos soldados mortos em conflitos iraquianos, entre 2003 e 2009. Em colaboração com a Art Fund, a ideia é que as fotografias sejam transformadas em selos postais do Reino Unido em forma de homenagem àqueles que dedicaram suas vidas à um ideal nacional. Segundo McQueen, enquanto o Royal Mail (o CORREIOS da Rainha Elizabeth) não comprar a ideia, o projeto não estará concluído. Existem diversas formas de apoiar o projeto, no site você pode interagir e colaborar.
Julian with T-shirt – Julian Opie
Numa tela de LCD 43’’ um retrato de um homem desenhado por um computador. Confesso que nos dois primeiros segundos de frente para aquela tela, tive o atrevimento de pensar que a curadoria estava rindo da cara do espectador. Ou, quem sabe, eu ainda não estava pronta para assimilar os novos paradigmas da arte, o que era mais provável.
Logo em seguida o “milagre” aconteceu e eu pude entender do que se tratava. Por meio de computação gráfica, Julian Opie cria retratos que se movimentam em looping numa tela de led. Este autorretrato, especificamente, respirava. Com um pouquinho de paciência pra contemplar, você conseguia ver a inspiração e expiração da personagem. Meus pensamentos foram correndo para algumas discussões recorrentes sobre a tal “fotografia multimídia” muito bem argumentada por Ronaldo Entler, em seu blog Icônica.
Sir Paul Maxime Nurse (“Paul”) – Jason Brooks
A última sala abrigava vários retratos fotográficos em cor de personalidades do mundo científico, e um único em P&B. Claro que foi ele o primeiro a me intrigar. A mania de não engolir legendas antes de digerir a obra me deu uma rasteira e tive que recorrer às letras pra descobrir que havia sido “enganada” por aquela suposta imagem fotográfica (e bem gostei de ser!).
Jason Brooks nasceu no Reino Unido em 1968 e desenvolve, por meio do que chamamos aqui já a algum tempo de fotopintura, o que veio para mim como “retratos de fotografias”. A proximidade dos desenhos com a imagem fotográfica é surreal, a ponto de confundir com facilidade qualquer par de olhos menos atentos. Além dos portraits, vale a pena uma olhadela em outros ensaios do cara como o Pee Paintings, onde ele foge do perigoso “tédio hiperrealista” e combina a pintura com discursos “reais”.
Ah! Também me lembrei da Rosângela Rennó, em Carrazeda + Cariri. Neste trabalho a artista dá vazão à técnicas de fotopintura com um conceito bem interessante. Se ainda não conhece, corre no blog da Lívia Aquino que tem um post bacana sobre isso!
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