Imaginar caminhos é como sonhar. Um ato descontínuo, ambíguo e ilusório. Ao construir paisagens, pensamos na idéia, quase sempre, de um território desejável. A imagem que formulamos destoa da natureza como ela se coloca para nós. Pensar por imagens é tracejar a forma de um tempo e de um espaço intermediários, que ficam no meio, no hiato da sugestão, de narrativas imaginárias, pelas quais apreendemos a subjetividade dos lugares.
Publicações da seção Crítica
Textos e pensamentos sobre fotografia e imagem que Georgia Quintas e Alexandre Belém tem escrito ao longo dos anos. Análises, crônicas, artigos, textos curatoriais, etc. Todo o conteúdo do blog Extraquadro foi transferido para cá.
Através de um corpo
As imagens do ensaio AutoDesconstrução são íntimas, sutis, inquietas. Não por serem femininas, mas, muito mais, por terem sido determinadas pela dúvida, pela coragem em cair no limbo complexo de ser ao mesmo tempo autora e tema. Nesse processo, a beleza e a suavidade do corpo nos levam para um imaginário repleto de subjetividade e de novas percepções. Fotografias que silenciam o prosaico e, sutilmente, conotam o frescor no não-visto.
Um lugar para que a fotografia possa agir
Texto publicado na A revista latino-americana Sueño de la Razón.
A crueza dos vestígios
Quando Frida Kahlo morreu, Diego Rivera, seu marido e também pintor, cerrou o que considerava de mais íntimo na casa onde ela havia nascido e morrido: o banheiro. Tomou assim a dimensão de um não lugar, o relicário estanque, guardado por ordem expressa. Até que um dia, a fotógrafa entrou serenamente. Ela e a câmera fotográfica. Somente as duas. Prontas para romperem a morte.
Ela sou eu
Essa camada sou eu. A superfície vocifera sempre diante do sol. Inclemente. Lindo, perfeito para brincar. A luz, sempre a luz… Não me toque porque me dói.Talvez, pela ausência. Pelo que precisaria ter para não ser. As camadas são mais subjetivas do que aparentam. Engano achar que são apenas – e tão somente – matéria, algo físico…
Mundos transfigurados
A produção de Castilho revela-se das mais instigantes no campo da fotografia experimental. De tão profusa e profícua, torna-se flácido conceituá-lo. Documental imaginário foi uma definição apropriada por ocasião do trabalho Paisagem Submersa. E, de fato, João Castilho insere-se cada vez mais na abstração, na subjetividade e na construção da imagem como narrativa esgarçada. A inquietação dos mundos criados por Castilho precede o ato fotográfico.
Passagens da morte
A fotografia da morte potencializa retóricas. Além de possuírem representatividades na constituição das relações sociais, dos estágios do luto, do afeto, assim como dos fatores que apreendem o diálogo entre círculo de parentes e seu ente que morrera. Assim, a fotografia mortuária intrínseca à história da fotografia trabalha com questões íntimas, de guarda e de memória. Sobretudo, do registro da última imagem.
Você insiste em criar vínculos
Se lermos e adentramos nos enredos propostos por determinado escritor, sua imagem será impregnada pelo fenômeno que subliminarmente cria uma norma, um corpo para o escritor. Quiçá não seja a mais justa das projeções sobre o outro. O sujeito que idealizamos e que num fluxo inverso inventamos enquanto personagem. Contudo, estamos capitulando o nível da imaginação que codifica elementos da poesia, da prosa, do romance, da ficção ou do realismo, das epistemologias, das narrativas e de atmosferas poéticas autorais.
Fotopintura
Conheça um pouco do Mestre Júlio.
Era para ser um simples encontro…
Era para ser um simples encontro… O sujeito dele: Júlio dos Santos. Iria conversar um pouco com ele, assistir à sua oficina. Entender um pouco mais sobre fotopintura. Sua especialidade. Já sabia que seria uma experiência enriquecedora. Apreciaria as fases desta técnica como a reprodução, revelação, ampliação, contorno, retoque, roupa e afinação. Afinal, ver in loco a imagem se transformar pelas mãos de quem ainda realiza fotopintura seria quase como presenciar uma insurgência. E tudo isso me interessava por motivos empíricos, teóricos e históricos.